quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Um cão, na manhã agreste


É um cão triste (parece-me) e discreto, este que vejo algumas vezes, logo pela manhã, na rua outrabandista. Não se junta à alcateia de vadios ruidosos, que já vai em três, e que deambula, pelas ruas e praças, ladrando grosso.
O pequeno cão prefere o seu passeio solitário por recantos mais quietos, farejando o chão em busca de alimento. Vê-se que já teve melhores dias, por algum pêlo, ainda encaracolado, castanho claro, pela sua marcha discreta, por não ladrar. Não olha sequer para o alto, em direcção aos humanos, naquela habitual esperança votiva e canina de o virem a adoptar. Deve já ter desistido. Até dos carros se desvia só no último momento. E muito devagar.

6 comentários:

  1. O tempo e o esquecimento recobre tudo, e continuamos vivendo sobre esse depósito de aluvião que é o fundo de toda a vida.
    Frase de um conto de Thomas Mann :Um homem e seu cão em "Os Famintos". O cachorro acima provavelmente não teve a mesma sorte de Bauschan...

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    1. Já aqui falei desse conto (4/6/2011) maravilhoso, de Thomas Mann, embora o nome do cão seja grafado, na tradução portuguesa de Gaspar Simões, como: "Bashan".
      Ainda hoje, de manhã, vi o cão de que falei. E que mantém a mesma discreta personalidade...

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  2. Não sabia dessa tradução portuguesa. A tradução na qual eu li é de Lia Luft, portanto ela traduziu como Bauschan. De qualquer maneira muito obrigada pois, foi uma sugestão para o meu próximo cãozinho,já que eu possuo um chamado Bauschan.
    Fiquei muito triste em saber que este cão parecido com um poodle ainda esteja vagando por aí. Eu adotei um na rua em piores condições. Acredito que este "encaracoladinho", com toda a sua docilidade, encontrará um lar digno para ele...Não, ele não irá desistir.

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    1. A tradução é dos anos 60, mas creio que Lia Luft terá sido mais fiel, na tradução brasileira, ao nome original do cão, em alemão. Gaspar Simões terá decerto traduzido o conto (O Cão e o Dono), da versão francesa.
      O cãozinho é deveras simpático, na sua humilde independência. E eu até nem sou muito amigo de cães, porque fui muito mordido por eles, na infância e adolescência. Mas este é especial..:-)

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