sábado, 11 de janeiro de 2014

A par e passo 74


Previno-vos que eu entro aqui naquele fantástico do espírito, sobre o qual escrevi atrás, referindo que nem Verne, nem Wells, nem o próprio Poe, o maior e mais profundo dos autores desta espécie, tinham ousado imaginar as possibilidades. Lembremo-nos, antes de mais, que não sabemos nada sobre o espírito em si e quase nada sobre os nossos sentidos. Aconteceu-me, algumas vezes, dizer a físicos, quando a conversa nos levava até às novidades e descobertas imprevisíveis, onde a ciência se embaraça nos nossos dias que, apesar de tudo, a retina deve ter as suas ideias sobre a luz, sobre os fenómenos ondulatórios nos quais se confundem as nossas expressões de linguagem antiga, matéria, energia, continuidade e descontinuidade.
- É preciso prever, dizia eu, que seremos obrigados, mais dia menos dia, a concentrar as nossas pesquisas sobre a sensibilidade e os orgãos dos sentidos.

Paul Valéry, in Regards sur le Monde actuel (pgs. 254/5).

2 comentários:

  1. a sensibilidade deve ser condicionada pelos orgãos dos sentidos ou, pelas suas percepções...também acho que o assunto merece ser estudado!

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  2. Escrito em 1949, passados mais de 60 anos, parece que não se tem avançado muito...

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