segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Diferentes velocidades


É provável que a velocidade de leitura de um livro seja proporcional ao prazer que nos dá.
Se "O Aprendiz de Feiticeiro", de Carlos de Oliveira, me ocupou, ininterruptamente, uma noite de Verão, quase em claro, já o primeiro livro que li (A história da Carochinha...) levou-me 3 dias a ler, porque a prática de leitura era nenhuma.
Os ritmos de leitura, por uma mesma pessoa, podem ser bem diferentes - é uma verdade de La Palice, que só recentemente compreendi na sua verdadeira extensão. E dependem, fundamentalmente, do interesse e gosto pelo livro e/ou pela acção da própria narrativa, e pela curiosidade (também) que desperta. Serão mais lentas, como é evidente, as leituras de romances de ideias ou ensaios.
Entre a parcimoniosa e lenta leitura que venho fazendo de "Guerra e Paz", de Tolstoi, na versão portuguesa de José Marinho, e a velocidade a que avanço na tradução/leitura do original (em francês) de La mort d'Auguste (1966), de Simenon, vai uma diferença de tomo...
Será, porventura, um sacrilégio, mas não tenho vergonha de o constatar, naturalmente.

15 comentários:

  1. Também estou a ler Guerra e Paz, já o tinha escrito num comentário que a net "comeu" (não sei se também vai comer este é por isso vou ser breve). A minha tradução é a da moda (ex-casal Guerra) e não estou muito feliz com ela, embora tenha ganho prémios.
    A escrita de Tolstoi é como a estátua evocativa da Guerra Peninsular (em Entrecampos, Lisboa). Dizia o meu avô, quando passava por ela: só lhe falta dar corda para que tudo comece a movimentar-se! Cada personagem tem vida e é descrita com a máxima particularidade o que obriga a uma leitura sem distrações porque, como depois se percebe, cada um dos pormenores é importante para "o todo". Mas hoje já não existe tempo para uma leitura assim, já não estamos educados para isso...

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    1. É o que se pode chamar uma geminação de leitura..:-) Eu vou na pg. 405 do primeiro volume (são 3 tomos), da edição de 1957, da Inquérito. A tradução parece-me boa, mas as gralhas são muitas - uma revisão muito descuidada...
      Acho que o JAD faz uma descrição pitoresca, mas bem realista do que é a obra. Para mim, uma das incomodidades de "Guerra e Paz" reside na enorme quantidade de personagens que, apesar de normalmente bem caracterizadas, me faz perder na floresta dos nomes (o romance de Simenon tem apenas 6, principais).
      Depois, no livro de Tolstoi, há a descrição de uma sociedade, seus costumes e tiques, que já pouco me dizem, ou interessam. É um bom livro, até na própria descrição das batalhas, mas que me parece excessivamente ancorado numa época datada.

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    2. APS, faça uma lista dos personagens, com os seus vários nomes. :) Eu fiz isso quando li, pela primeira vez, O doutor Jivago.

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    3. Não sei qual foi o primeiro livro que li, mas se se calhar também foi A história da Carochinha. Ou terá sido O livro do bebé?

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    4. Talvez seja um pouco tarde, mas vou seguir o conselho de apontar os nomes (coisa que nunca fiz), porque no meio da multidão dos nomes, creio que só há 4 ou 5 que eu consigo identificar plenamente...

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  2. Por muito que digam os académicos e os polícias, Simenon é de outro campeonato...

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  3. Hoje já olham de outro modo para certos autores das para-literaturas.

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    1. Já era tempo... Até porque Gide era um devotado apreciador da obra de Simenon - esse, pelo menos, não tinha "preconceitos"...

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    2. Pourquoi, si tous ces romans se ressemblent, ne se lasse-t-on pas d'en lire de nouveaux ? Pourquoi est-on si heureux qu'il y ait toujours un Simenon à découvrir ? Quel est le virus ?
      (Berbard de Fallois, editor. Paris Match, setembro de 1989, pela morte de Simenon).

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    3. Felizmente, ainda tenho 6 ou 7, na biblioteca, dos "romans durs" de Simenon, para ler. Por isso acho que a segunda frase, das referidas, é certeira.
      Mais difícil, no entanto, será explicar porque gostamos tanto de ler Simenon...

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  4. Também não me recordo qual foi o primeiro livro que li...

    Por tudo o que vou ouvindo, Guerra e Paz, só mesmo quando me aposentar...
    Também aponto os nomes e parentescos, para não me perder, quando há muitos a fixar.

    Boa tarde:)

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    1. Três coisas me parecem absolutamente necessárias para ler "Guerra e Paz": tempo, paciência e concentração.
      Bom resto de dia!

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  5. Tolstoi é Tolstoi e "Guerra e Paz" a 8.ª maravilha do mundo.
    APS, sim, acho que é necessário tempo e concentração para ler este livro. Paciência, não. Li-o de uma assentada há muitos anos, quando o ritmo era outro e havia muito tempo para ler.
    MR e Isabel, já tenho feito uma cábula com os nomes e parentescos.
    Miss Tolstoi

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    1. Terei de me acusar de impaciência em leitura, Miss Tolstoi, porque sei ser essa uma das minhas componentes. Isso também explica a minha incapacidade humana para apreciar Proust - não há nada a fazer.
      Não recuso a "Guerra e Paz" o arquivamento no capítulo de obras-primas universais, mas continuo a pensar que é ancoradamente datada, num tempo e sociedade que já pouco nos diz.

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