domingo, 21 de setembro de 2014

A par e passo 107


O Animal, sem dúvida, não rumina a ideia da morte. Ele não teme senão o constrangimento de temer. Desaparecido o perigo, a força do pressentimento funesto desaparece: a morte não tem mais a forma de um aguilhão e não desempenha mais nenhum papel.
E isto porque nada de inútil, nada de desproporcionado existe na conduta do Animal. Ele não é, a cada instante, senão aquilo que é. Ele não especula sobre valores imaginários, não se inquieta sobre questões às quais os meios de que dispõe não lhe permitem responder.
Daqui resulta que o espectáculo da morte dos seus semelhantes que pode, nesse preciso momento, emocioná-lo ou irritá-lo, não lhe causa tormentos ilimitados, nem altera em nada o seu sistema bem positivo da existência. Dá a ideia que ele parece não possuir tudo aquilo que é necessário para conservar, manter e aprofundar esta impressão.

Paul Valéry, in Variété III (pg. 189).

2 comentários:

  1. Será assim? Que sabemos nós sobre o assunto?

    Já tinha comentado há dois dias, mas pelos vistos não ficou. Espero que desta...

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    1. Também me perguntei o mesmo...
      Mas é certo que P. V. , um homem das Humanidades, era também um estudioso aplicado da Ciências.

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