quinta-feira, 17 de abril de 2025

Desabafo (96)



Estas horrorosas mosquinhas da fruta, inúteis e incomodativas, são como os polícias: só aparecem aos pares, no mínimo, para nos aborrecerem. Deve ser por medo de andarem sozinhas...

T. S. Eliot

 

É um dos últimos TLS (nº 6356) que dá a boa notícia de que a editora Faber and Faber publicou, em 4 volumes, The Collected Prose, de T. S. Eliot (1888-1965), num total de 3.536 páginas. É a primeira vez que tal acontece, de forma completa, quanto aos ensaios do notável pensador.
Na minha opinião, com Paul Valéry (1871-1945), Eliot foi o mais capacitado estudioso de poesia e que dela falou com mais propriedade intelectual, até ao momento. Por cá, só talvez Jorge de Sena (1919-1978) se aproximou mais na abordagem  desta difícil temática literária.

quarta-feira, 16 de abril de 2025

Os inefáveis surreais



Citemos a pérola:
 "... O modo como escreve é sempre devoção e crua ancestralidade. Digo assim porque a beleza encantatória que atinge não prescinde da frontalidade, é sempre presente uma carne feita que se fere e sacrifica, que se persegue e usa, que tem prazer e que se multiplica, que encontra o outro e se suja na sua mais profunda normalidade. ..."    JL (nº 1422), pg. 36

Perguntaria eu:
"Foi você que pediu um Porto Ferreira?"

Adivinhe-se o artista!

Dmitri Shostakovich (1906-1975)

segunda-feira, 14 de abril de 2025

Da Páscoa

 

Por estas alturas também vem à tona da memória as doçarias pascais. Lembraria os bolos de gemas, as cavacas e sobretudo, pela antiguidade (cerca de 300 anos) tradicional, o Pão de Ló de Margaride que se fabrica na terra homónimo, próximo de Guimarães. E que, como dizia Cesário, se não fora " pão de ló molhado em malvasia", era ao menos embebido no café com leite matinal, nos meus tempos de infância.

domingo, 13 de abril de 2025

Números

 


No ano de 2024, as editoras portuguesas produziram cerca de 20.000 títulos para o mercado nacional. No presente ano de 2025 a média de venda diária foi de cerca de 35.000 livros,  no primeiro trimestre, em Portugal. O jornal Público informa-nos ainda que o género mais procurado foi a literatura infanto-juvenil que representou uma cota de 35,6% da venda total.

Pergunto eu; será que as criancinhas e os juvenis conseguiram ler tudo isto?!

sábado, 12 de abril de 2025

Ressurreições



Mais papeira ou menos papeira, as reencarnações podem sempre existir...


Diogo ou Pedro, para o caso, tanto faz. E a AD em comum.

sexta-feira, 11 de abril de 2025

Ideias fixas 94

 
Por sistema, evito referir a cúpula cáfila estadunidense actual. Seja como for, é dar-lhe publicidade à estupidez e irracionalidade cavernícola. E, três ou quatro gerações passadas, serão menos conhecidos ainda que o Bush jr.

quinta-feira, 10 de abril de 2025

Filateliia CXXIV


Desde cedo que a Suíça se apercebeu que os seus selos de correio poderiam ser uma óptima fonte de receita para os seus orçamentos, especializando-se, por isso, os seus serviços postais em temáticas (flora, fauna...) que atraissem o interesse de filatelistas nacionais, mas também estrangeiros.


A qualidade profissional da empresa helvética Courvoisier SA, que chegou a trabalhar para os CTT portugueses (séries heliogravadas do Presidente Carmona, 1945, da 2ª emissão de Costumes Portugueses, 1947, e Dinastia de Aviz, 1949) também contribuiu para o prestígio dos selos suiços e sua divulgação no mercado filatélico.




Logo, outros pequenos países com menores capacidades financeiras, dando conta do sucesso, lhe seguiram o exemplo produzindo séries filatélicas que foram fidelizando coleccionadores a comprarem-lhe as tarjetas postais para os seus acervos. Destacaria, por exemplo, Mónaco, Vaticano, e S. Marino que deixo em imagem comprovativa, na imagem superior.

terça-feira, 8 de abril de 2025

Uso pessoal 23

 


As grossas correntes, presas aos coletes, foram substituídas por ligações mais leves e chaves mais pequenas, consentâneas, como estas 3 da imagem acima.
Agrupam-se habitualmente por pares: chaves da rua e chaves de casa, mas podem ser mais variados os porta chaves pessoais, podendo conter ainda outros acessórios úteis anexos.
Diversos são os patrocínios para fazer propaganda a: marcas de automóveis, cafés, festas de província...

domingo, 6 de abril de 2025

Mercearias Finas 208

 

É um daqueles vinhos que, ciclicamente, naqueles truques foleiros e parôlos, algumas grandes superfícies reduzem, em promoção (sublinhando o facto...), para menos de metade do preço a garrafa*. (Só quem é distraído, não repara nesta estranjeirinha moderna comercial.) É por essas alturas que eu costumo comprar o Vinha da Coutada Velha, do Monte da Ravasqueira, de Arroiolos. Porque é lotado por três, das quatro grandes castas brancas autóctones portuguesas: Alvarinho, Arinto e Antão Vaz. E é bom.
A colheita de 2023, vinho branco (13º), combinou lindamente, com um caril de chôcos, que HMJ fez de forma original, na perfeição e de sabor, deliciosos.


* Que isto, e como diz o ditado: "Quando a esmola é grande, o pobre desconfia."

sábado, 5 de abril de 2025

Humor negro (23)

 

Realmente, à quadrilha já só falta esta especialização de actividade profissional...

sexta-feira, 4 de abril de 2025

Talvez valha a pena...



...comprar este JL, saído ontem, para ler melhor Herberto Helder (1930-2015), falecido há dez anos atrás.

quinta-feira, 3 de abril de 2025

Suplementos literários

 
Lembro-me bem que, nos anos 50/70 do século passado, cada jornal que se prezasse tinha um suplemento literário semanal. À quinta-feira o "Diário de Notícias", o "Popular" e o "Lisboa", à quarta "A Capital" e por aí fora... A página literária do Diário de Notícias, orientada por Natércia Freire, era uma instituição, e contribuía, através das recensões isentas de João Gaspar Simões, para criar um critério de qualidade na leitura do país. A norte, n'O Comércio do Porto, Óscar Lopes desempenhou o mesmo papel crítico e pedagógico. Actividades que permitiam a grande parte do que se editava que tivesse um mínimo de qualidade literária. Também o jornal Público, que foi lançado em 1990, publicava, ao sábado, um bom suplemento cultural (Mil Folhas), que veio vindo a definhar tal como a qualidade geral do diário. Hoje em dia, à sexta-feira, o jornal insere apenas uma ou duas recensões a obras incaracterísticas no suplemento ípsilon.



Entretanto, a ocupar este vazio, começaram a aparecer uns blogues foleiros e manhosos, orientados por umas mulherzinhas cerzideiras e mercenárias que passam o tempo entre livros e tachos e que, pagas muito provavelmente por editoras pouco preocupadas com a qualidade dos produtos que editam, lhes fornecem títulos a metro e as fazem publicitar a mediocridade dos seus livros e obras para vender aos incautos leitores.

terça-feira, 1 de abril de 2025

Citações DX

 

A verdade, tal como a luz, cega. A mentira, pelo contrário, é um belo crepúsculo que põe cada um dos objectos em destaque.

Albert Camus (1913-1960), in La Chute.

Megalomanias ianques


Não bastava o Canal do Panamá e a Gronelândia, agora a cobiça paranóica dos americanos estendeu-se até ao aeroporto das Lajes e, por acréscimo à ilha da Terceira (Açores), de que os trumpes consideram necessário tomar posse, por uma questão de "espaço vital"...
Só nos faltava mais esta! 

Adagiário XXXLXXVIII



 Ovelha cornuda e vaca barriguda não a troques por nenhuma.

segunda-feira, 31 de março de 2025

Dias da semana

 
O provérbio está aí para lembrá-lo: "Não há sábado sem sol..."
Mas eu creio que, de todos, a segunda-feira, ao menos durante a vida activa, é o dia mais mal amado, e percebe-se a razão. A sexta-feira será talvez ambígua, pelo seu lado aziago, mas também pela aproximação agradável ao contíguo fim-de-semana seguinte.
Mas volto ao primeiro dia útil da semana que, presentemente e por circunstâncias ocasionais mas concretas, me obriga a levantar-me sempre mais cedo do que nos outros, para proceder a determinadas acções obrigatórias. Reforçando assim o carácter desagradável desse amanhecer marcante e inóspito, para mim.

sábado, 29 de março de 2025

Menos uma hora de sono...

 

...esta madrugada, por mudança de hora: os relógios devem ser adiantados da 1 para as 2 horas da manhã.

quinta-feira, 27 de março de 2025

Citações DIX

 

Todos aqueles que me roubaram são, pelo menos, comendadores da Legião de honra. Antigamente, suspendiam os ladrões numa cruz. Hoje, penduram cruzes no peito de ladrões.

Louis-Ferdinand Céline (1894-1961), in Cahiers Céline, nº 2.

quarta-feira, 26 de março de 2025

Uma louvável iniciativa 66

 

Se a pequena tiragem original de 200 exemplares de O Livro de Cesário Verde, editado pelo seu amigo Silva Pinto, em 1887, justifica a rareza e preço da obra em leilões e nos alfarrarrabistas, alguns autores e obras, no século passado, ganharam o favor bibliófilo insólito de raridades, e ainda hoje são caros, sem razão aparente. Estão neste caso, alguns dos livros de Herberto Helder e de Luiz Pacheco.
O jornal Público deu a notícia agradável, ontem: um coleccionador entusiasta, embora discreto e anónimo, promoveu com o patrocínio da Livraria Buchholz, uma exposição que abrange toda a obra editada de Herberto Helder (1930-2015)., totalizando 60 títulos. A mostra pode ser visitada até 21 de Maio de 2025.

terça-feira, 25 de março de 2025

Últimas aquisições (59)

 

Saída recentemente, esta edição dos poemas completos da inglesa Wendy Cope (1945) não é bem uma aquisisição, antes uma estimada oferta que muito apreciei e irei ler, com atenção.

( E aqui fica um poema que traduzi:

Leaving

for Dick and Afkham  


Já no próximo verão? No verão seguinte?
Teremos sorte se houver mais alguns anos
De sol, bebida e gargalhadas,
Aeroportos e adeuses, lágrimas.

[pg. 171] )

Johann Peter Salomon (1745-1815)

segunda-feira, 24 de março de 2025

Regionalismos madeirenses (3)

 

Com palavras começadas pela letra B aqui se acolhem mais 5 regionalismos seleccionados da obra já referida, anteriormente, desta temática. Seguem-se:

1. Babado - que não toma iniciativas; que tem atitudes típicas de quem é pouco inteligente ou estúpido.
2. Bábeda - pequena elevação na pele, de aspecto avermelhado e consistência dura, acompanhada, às vezes, por prurido.
3. Banano - pessoa ou coisa notoriamente grande.
4. Bicuda - estado de embriaguez, por ingestão excessiva de bebidas alcoólicas.
5. Buginha - cão pequeno, cachorro.

domingo, 23 de março de 2025

Falar por falar

As mosquinhas da fruta já chegaram à cozinha, com o solstício* de Primavera, mas nunca consegui descobri donde vem. Sobrevoam agora o Liminiano, na sua palidez sepulcral do pequeno-almoço, e a quem o produtor parece ter apartado manteiga, queijo, requeijão e até almece, deixando-lhe aquela lividez permanente com apenas 50% de gordura e sem cor notória. Com o mata-moscas consegui despachar um dos impertinentes insectos, sem remorsos por roubar o cibo aos passarinhos, que, respeitosamente, nunca entram na cozinha.

* Deveria ter escrito: equinócio. Agradeço a quem me corrigiu.

sexta-feira, 21 de março de 2025

Dia Mundial da Poesia



Oportuna lembrança esta que a casa Vicente Leilões promoveu, hoje, para o Dia da Poesia, levando a leilão mais de uma centena de livros de poemas, alguns de grande raridade. Resolvi escolher quatro deles, bem como a sua estimativa de preço, para destacar, neste poste.
Acima, este primeiro livro de Raul Leal (lote 99) que tinha uma base inicial de 120 euros.



A segunda, é a única primeira emissão que eu não tenho e que foi editada em Paris, em 1892, numa tiragem de apenas 250 exemplares, por António Nobre. Mas possuo a edição facsimilada que José Augusto Seabra (1937-2004) mandou fazer pelo centenário da obra, em 1982. A edição original tem uma estimativa de 1.000 euros (lote 112), neste leilão.


Há muito na minha posse, está a edição primeira  de Clepsydra (1920), de Camilo Pessanha. Que, neste leilão (lote 123), tem uma estimativa de 500 euros. Em Outubro de 1994, um exemplar semelhante, muito bem encadernado, custou-me Esc. 20.000$00,  num alfarrabista da rua do Alecrim.



Finalmente o lote 139, de António Diniz da Cruz e Silva, O Hyssope (1802), com local de impressão em Londres mas, na realidade, impresso em Paris, na sua edição original, tem uma estimativa de venda de 50 euros iniciais.






quinta-feira, 20 de março de 2025

Idiotismos 52

 

É minha convicção que o léxico vernáculo português cada vez será mais reduzido, em benefício do inglês ou do vocabulário espúrio norte-americano. Creio que isto terá começado de forma mais acentuada, pelos anos 60 do século passado, no Algarve, sobretudo a nivel comercial, alastrando depois para outras áreas.
A proximidade temporal da Páscoa, levou-me, entretanto, a consultar um pequeno opúsculo, de Américo Cortez Pinto (1886-1979), que aborda, de forma competente palavras relacionadas com esta época religiosa: 
1. Pascácio* que, inicialmente, significava "o que nasceu na Páscoa"; ou cara de Páscoa.
2. Pasconso*, composto de Páscoa e Sonso.
3. Sonso, finalmente, talvez proveniente do espanhol "zonzo", mas também com o significado de sem sal. Do latim insulsu. Ou ainda: artificial, disfarçado e mentiroso.
Aqui ficam, assim, alguns esclarecimentos complementares sobre estes vocábulos relacionados com a Páscoa.

* estas duas palavras, na minha juventude, eram também aplicadas a pessoas limitadas ou palermas.