quinta-feira, 18 de setembro de 2025

Do que fui lendo por aí... 71

 

"A linguagem busca constantemente impor o seu domínio sobre o pensamento. Na corrente de pensamento, ela gera remoinhos, aos quais chamamos «perturbações mentais», e aqueles bloqueios que dão pelo nome de obsessões. Todavia, a interferência, a incessante «turbação das águas» são também aquelas da criatividade. Nesta ondulação da maré, o acto de pura concentração, a tentativa de purgar a consciência das suas ficções vitais, das alucinações lúcidas de desejo, intencionalidade ou medo são, como já anteriormente fizemos notar, extraordinariamente raros."

George Steiner (1929-2020) George Steiner, in  Dez Razões (Possíveis) para a Tristeza do Pensamento (pgs. 33/4).

Nota pessoal: para quem, como eu, não se dá lá muito bem com a filosofia, este livro de ensaios, de George Steiner, é um manancial de reflexões singulares e irradiantes, que nos levam até longínquas paragens...

quarta-feira, 17 de setembro de 2025

Desabafo (101)

 
Penso que nunca fui de muitas palavras ou, ao menos, procuro cingir-me ao essencial que tenho para dizer. O excesso é, muitas vezes, fruto das nebulosas do espírito, ou de mentes pouco arrumadas e que não sabem bem o que têm para dizer. São fala-baratos compulsivos, que nada acrescentam à vida, como o PR e os cães que, a maior parte das vezes, por não terem sido ensinados, ladram sem motivo, só para marcar presença e o terreno...

Dietrich Erdman (1917-2009)

terça-feira, 16 de setembro de 2025

Robert Redford

 


Há nomes de actores no genérico de filmes que são garantia prévia, para mim, da qualidade da película.
Robert Redford (1936-2025), falecido hoje, era um desses raros nomes.
Mas bastaria referir duas obras para reavivar e perpetuar a sua memória: The Sting (1973) e Out of Africa (1985).



segunda-feira, 15 de setembro de 2025

Uma fotografia, de vez em quando... 201

 

Multiplicando-se por várias formas de expressão que vão das obras temáticas até às exposições e filmes, bem como vendas directas, o fotógrafo inglês Rip Hopkins (1972) iniciou cedo a sua profissão e, em 1996, integrou a agência VU.




Retratista consumado (Anthony Hopkins, Jagger e Marianne Faithfull...), fotografou África mas também Timor Leste, entre várias outras paragens, acompanhando os Médicos sem Fronteiras. A sua obra está representada em alguns museus da especialidade, e em galerias prestigiadas.



sábado, 13 de setembro de 2025

Recomendado : cento e oito

 

É uma obra de luxo, pela alta qualidade dos componentes e colaboradores. De Júlio Pomar (1926-2018) já o sabíamos talentoso retratista, depois do retrato que fez de Mário Soares, para a Presidência da República.
Nesta  obra eu gostaria de destacar os desenhos retratando Alberto Lacerda, Graça Lobo, José Cardoso Pires e Manuel de Brito, entre outros. Também os textos de Fernando Gil são inspirados e originais.
Sendo o livro de 1987, e patrocinado pela CGD, não sei se ainda estará à venda na IN-CM, e não esgotado. Chegou-me às mãos um exemplar, em oferta gentil de um bom Amigo (Obrigado, H. N.).
Quanto à aquisição, fica o meu recomendado.

sexta-feira, 12 de setembro de 2025

A força das imagens



Sempre que o espadarte me vem à mesa, na refeição, lembro-me da hábil Mirandolina que, vinda de Belas pela manhãzinha, os expunha, pendurados, na sua pequena banca de Oeiras e, depois, já com mais espaço, no hipermercado de Cascais. Talentosa vendedora, ao fim do dia, já não havia nenhum resto do peixe.
Há imagens que marcam, definitivamente, as situações reais ou de ficção.
Embora na novela "O Velho e o Mar" traduzida de forma exemplar, para português, por Jorge de Sena, nunca se diga de que peixe gigantesco se tratava, aquele que o velho pescador tentava trazer para terra, o elegante desenho de Bernardo Marques, na capa da edição dos Livros do Brasil, sempre me pareceu de um espadarte. E para mim assim o será, em definitivo.

quinta-feira, 11 de setembro de 2025

Apontamento 184: Contra o Luso-Trumpismo, marchar, marchar !

 

Tanto por cá, como no centro da Europa, observa-se uma amnésia da população da base essencial da Democracia, a saber, um centro-esquerda com valores cívicos, sociais e culturais de suporte essencial à nossa vivência em comunidade.

Em tempos dizia-se que era a Burguesia o garante da Democracia. Ora bem, que assim continue !

Com os ataques, de simulacro com desvarios estrangeiros, sucede que, esse grupo essencial à manutenção da nossa vida em comum, parece ter entrado em choque amnésico, deixando passar toda a sorte de ataques ao fundamento do bem comum.

Já não são as forças da direita, extrema-direita e reacionários confessos, mas são os aparentes meninos minorcas bem-comportados com discursos ínvios, inverdades, trocadilhos e posturas de má catadura que nos minam a conquista da DEMOCRACIA.

Por isso, contra uma certa inanidade perante a invasão de tanta ignorância, atrevida, um discurso político quotidiano, enrolado de falsidades,  que parece conseguir convencer os  tais 46% de portugueses que só entendem textos simples, é preciso agir: marchar, marchar contra “a tomada do poder pelos inimigos da DEMOCRACIA”.

Mais do que nunca e, em vez de desistir da participação activa na Democracia, é preciso que a élite, assumindo o seu papel de  timoneiros e sem receios,  assuma, sem receios o seu papel de defesa dos valores essenciais da nossa vivência, sem peias, porque há alturas na vida comum em que é preciso assumir a vanguarda que, neste caso, pertence aos mais sabedores, esclarecidos e conscientes.

Portanto, mais do que nunca, é altura de MARCHAR, MARCHAR, sem contemplações.

Post de HMJ

Pinacoteca Pessoal 215

 


Autodidacta e modernista, Mário Eloy (1900-1951) entrou tarde na profissão e tem, pela sua curta vida e feitio, uma obra pequena que abrange apenas cerca de 100 pinturas e 300 desenhos. A exigência pessoal e ânsia de perfeição levaram-no a que destruisse muitas telas. O que ficou, no entanto, permite ver um estilo muito pessoal e os temas singulares da sua obra.




A ocorrência de perturbações mentais levaram a que Mário Eloy fosse internado na casa de saúde do Telhal, onde veio a falecer prematuramente.


quarta-feira, 10 de setembro de 2025

Lembrar

 

Vêm da infância

Vêm da infância, essas mulheres.
Caladas, discretas, sem pressa
de existir. Esplêndidas mulheres essas,
penteadas com a risca ao meio,
as orelhas descobertas pelo cabelo
de sombra clara.
No seu coração o mundo
não era tão pequeno e o que faziam
não lhes parecia humilhação.
Sabiam envelhecer com a vagarosa
luz das crianças
e dos animais da casa.
A par da rosa.

Eugénio de Andrade (1923-2005), in O Sal da Língua (1995).


Nota pessoal: é habitual que, dos poetas consagrados, nas citações se reproduzam não muito mais que 5 a 10 poemas, sempre os mesmos, até à exaustão, numa cacofonia delirante. Para lembrar Eugénio preferi, escolher um poema menos conhecido, mas que não deixa de ser um belo poema.

Impromptu 84

terça-feira, 9 de setembro de 2025

Retratos (36)

 

Reconhecem-se à distância. Calçam chanatos de plástico, sem meias, usam calções para mostrar as pernas muito brancas e escanzeladas, usam, normalmente, camisas berrantes com motivos havaianos. E bonés. Param de boca aberta para ouvir músicos vadios de rua, aplaudindo freneticamente, no fim das canções, mas raramente dão esmola a estes ambulantes. Fotografam de fio a pavio, babosamente tudo, desde o poeta Chiado ao Pessoa, de Lagoa Henriques, sem saber quem são, ou da montra da Hermés a um lulu da Pomerânia que se lhes atravessa no caminho. Se forem espanholas (castelhanas) falam muito alto.
São os turistas de terceira categoria, chungas, que nos aparecem por Lisboa e província, aos magotes.

segunda-feira, 8 de setembro de 2025

Ele há cada título...

 

É notória e sabida a perda de qualidade do jornalismo nacional e muito poucos dos seus agentes escapam à mediocridade geral. Mas ainda nos surpreendemos com alguns títulos nos jornais de referência.
Mal enjorcados, desarrumados, crípticos como este, acima. Que estará lá a fazer a redundância?

O "lobby" das floristas

 

Tudo isto começou em 1997, com as toneladas de flores, no exterior do Palácio de Kensington, pela morte trágica de Diana. Depois disso, foi um ver se te avias. E agora até o minorca do Moedas alinhou nas oferendas votivas, nos Restauradores. Quem se trama, depois, são os homens da limpeza da Câmara...

domingo, 7 de setembro de 2025

sexta-feira, 5 de setembro de 2025

A tragédia vende sempre

 

Ao passar de táxi em frente do terminal inferior do Elevador da Glória vejo um magote de poviléu, bem mais de uma centena de criaturas, contemplando o "espectáculo". Só não consegui perceber se tiravam selfies ou se o PR também por lá andava. Ao que consta, o nosso fala-barato-mor esteve no local...

quinta-feira, 4 de setembro de 2025

Perguntar, não ofende (7)



Fiquei banzado, mas será verdade?

Disseram-me que a proliferação enorme de tuk tuks, em Lisboa, se deve ao facto, de dois dos importadores destas geringonças orientais, pobretes e inseguras, serem também vereadores do Moedas pantomineiro. 

Medidas

 
Não há forma de comparar a dor ou medir o grau de cansaço. Cada um tem os seus, intransmissíveis.

terça-feira, 2 de setembro de 2025

Bibliofilia 225



Não é todos os dias que fico surpreendido com uma encadernação. Se não erro, quatro ou cinco me ficaram na memória, e duas delas tinham a marca do artesão profissional que as fez. Esta, da imagem acima e que me foi oferecida (Obrigado, H. N.), é anónima, mas uma linda obra executada.
O estudo, de Jacinto do Pado Coelho (1920-1984), sobre o poeta João Xavier de Matos (1730?-1789), é o mais extenso e completo trabalho que conheço sobre o vate, embora contenha uma ou duas imprecisões, que não desmerecem o valor do conjunto das 36 páginas integradas na miscelânea.



segunda-feira, 1 de setembro de 2025

Citações DXIX

 

A pseudo-erudição, no seu lado bom, é a homenagem prestada pela ignorância à cultura.

E. M. Forster (1879-1970), in Aspects of the Novel (1927).

Adagiário CCCLXXXIII

 

Quem te ensinou a remendar? Filhos pequenos e pouco pão para lhes dar.

domingo, 31 de agosto de 2025

Revivalismo Ligeiro CCCXLIV


No dia em que Sérgio Godinho completa 80 anos de idade.

sábado, 30 de agosto de 2025

Escreve, quem sabe

 

Esta carta ao director do jornal Público, vinda de quem vem e de uma especialista da matéria, não deixa de reforçar a justeza da decisão tomada por Isabel Pires de Lima (1952), ex-ministra da Cultura.
Dos tiranetes, que por aí andam dissimulados, vamos sabendo deles...

Amanhecer

 

Foi assim, hoje.

sexta-feira, 29 de agosto de 2025

A querer ser máxima

 
Isto de usar diminutivos para si próprio(a)  na idade adulta só pode indiciar um certo atraso. Mental, provavelmente. Ou uma ternura excessiva, deslocada no tempo.

Filatelia CL

 

O estudo dos selos portugueses desde cedo suscitou o interesse de estrangeiros, sobretudo de filatelistas ingleses. A Portuguese Philatelic Society, sediada na Grã-Bretanha, teve também uma grande importância na difusão da filatelia nacional lusa, no último século.
Dos seus associados, há que destacar o comandante David Leslie Gordon por estas 2 obras fundamentais, de que reproduzimos as capas, acima, e que foram publicadas em 1985 e 1987, respectivamente.


Seleccionamos 5 selos de D. Luís com carimbos dos mais interessantes ou raros, da nossa colecção, que vem referidos nas obras citadas e que passamos a identificar. Da esquerda para a a direita, o primeiro ostenta a marca de "Posta Rural" (PR), o segundo, com perfuração em estrela, destinava-se ao pagamento da taxa de telegrama, o terceiro tem a identificação local de Golegã. O quarto selo, com o pouco frequente carimbo de Alvôco (Seia), é raro e tem uma valorização de 75, numa tabela de 100, referida por D. L. Gordon. Finalmente, o quinto e último tem o carimbo nominal de S. Domingos de Carmões (Torres Vedras).





quinta-feira, 28 de agosto de 2025

Divagações 209


Ou se escreve a pertença, no verso, ou se perde a origem da fotografia. Depois, só apenas a arqueologia especializada poderá permitir situar aquilo que terá sido nosso, ou contemporâneo. Se for útil ao futuro. O que é altamente duvidoso. Embora muita gente pense que tudo o que viveu é importante. E assim vão sendo felizes pela vida.

Vivaldi / Drahos

terça-feira, 26 de agosto de 2025

Ideias fixas 99

 

Crescer ao deus dará dá nisto. A ausência de regras de educação transmitidas, por parte de tutores responsáveis (pais, professores...) que o não são, é, quanto a mim, a causa principal desta escalada de violência que o título do jornal Público, de hoje, denuncia em números.
Até os cães precisam de ser ensinados para não estarem continuamente a ladrar e incomodar a vizinhança...

segunda-feira, 25 de agosto de 2025

Memória 154

 

Desconheço se a Sociedade de Língua Portuguesa ainda existe. Localizada na rua de S. José (Lisboa), em prédio algo degradado, que ameaçava ruína, foi obrigada a retirar, nos anos 90, os seus cerca de 20.000 livros, que ficariam depois à guarda da BNP, por questões de segurança. A temática dos dicionários ocupava um largo espaço, naturalmente.
A venerável e útil instituição tinha sido criada em 14/11/1949 e editava um Boletim (imagem acima) informativo que, dos 1500 exemplares iniciais, chegou a tirar 5000, e era distribuído gratituitamente aos associados da SLP. Rubricas tais como um consultório linguístico, muito útil, e outras curiosidades constavam do boletim da sociedade. Como por exemplo: