domingo, 18 de março de 2012

Salão de Recusados XLI : de "Memória de Outro Rio", E. de A.


Allegretto Scherzando

Aqui tenho as árvores próximas, posso ir à varanda, a luz crepuscular costuma demorar-se nos ramos. Mas hoje, mal abri as persianas, um estorninho entrou na sala, deu algumas voltas rápidas a reconhecer o terreno, depois pousou no piano, próximo de Mozart. Cheio de curiosidade, perguntava-me o que iria acontecer. Qual deles começaria a cantar? Mas o telefone tocou, fui atender, queriam saber se naquele lado do mundo se avistava no céu algum objecto brilhante, e quando voltei já o Mozart e o estorninho haviam partido.

Eugénio de Andrade, in Memória de Outro Rio.

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