terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Boas Entradas em 2020!


A todos o melhor Ano Novo possível de 2020.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

Uma fotografia, de vez em quando... (135)


Nascido nos Estados Unidos, embora marcadamente de esquerda, o fotógrafo Paul Strand (1890-1976) era considerado um  compagnon route de alguns artistas e intelectuais norte-americanos comunistas. No início da sua carreira chegou a realizar alguns filmes.


Talvez pelas suas simpatias de esquerda e o hostil ambiente norte-americano, viveu uma boa parte da sua vida em França onde veio a falecer a 31 de Março de 1976. A sua perspectiva sobre a profissão definiu-a ele de forma lapidar: " A fotografia é um testemunho da nossa vida, para aqueles que realmente vêem."



domingo, 29 de dezembro de 2019

Em aditamento à leitura de Graham Greene


É sabido como muitos dos romances de Graham Greene (1904-1991) tiveram adaptações ao cinema, algumas vezes com a colaboração prestimosa do escritor. E com grande sucesso de audiência.
Já depois de alguns re-comentários que fiz ao anterior poste sobre a leitura do livro Pago para Matar, dei-me conta, no meu banco de imagens do arquivo do Arpose, do belo cartaz que apoiou o lançamento do filme homónimo, em 1942. Interpretado por Veronika Lake e Alan Ladd, a película foi realizada por Frank Tuttle.
Em 1991, houve uma nova versão (remake) do romance, com interpretação de Robert Wagner e realização de Lou Antonio.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Apontamento 128: Cartinhas para aprender




A gravura reproduzida é retirada do livro Medidas del Romano que, além do extenso texto explicativo, apresenta muitas figuras, bem mais de 60 imagens. Embora o impresso não se enquadre, pelo número de fólios, na classificação de “Cartinha”, a edição cumpre, todavia, o seu objectivo de ensinamento.



Assim, o título do livro sublinha que é uma edição  com muitas “figuras muy necessarias a los officiales que quieren seguir las formaciones delas Basas/Colunas/Capiteles / y otras pieças de los edifficios antiguos.”


Como se vê, o livro não interessa apenas aos que se dedicam à História do Livro, alargando a intenção própria de aprendizagem a outras camadas de interessados.


A obra integral, publicada em 1542, na cidade Lisboa, em casa de Luís Rodrigues, faz parte do acervo da BNP RES, 6082 P, podendo ser apreciada, em cópia digital, através do acesso da BND, purl.pt/15281.

Em mais uma geminação com MR que, falando de cartilhas, me fez lembrar estas Medidas del Romano e as imagens belíssimas.

Post de HMJ

Da leitura 34


Estou tentado a dizer que um grande escritor se impõe, de forma categórica, quando nós até dispensámos e esquecemos o enredo de uma sua obra de ficção, para nos concentrarmos no prazer de  o ler  pela sua forma e estilo de contar.
É, de algum modo, aquilo que me está a acontecer com a leitura de Pago para matar (ENP, 1959), de Graham Greene, numa belíssima tradução de Isabel da Nóbrega (convém referi-lo). O enredo quase não vem aqui para o caso...

quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

Economia doméstica



Em geminação com um "post" de MR, falando de agendas domésticas, lembrei-me de um folhetinho que comprei há bastante tempo e que se reproduz acima.

Para além de receitas, o livrinho inclui listas de compras e propostas de orçamento familiar, a observar com preceito:


Com este livro, só as "analfabetas" é que não governam bem a sua casa !

Post de HMJ, para MR

Dos Ilustríssimos


Sempre me surpreendeu a forma delicada e com pinças como são tratados os agentes da Justiça no nosso país. Muitíssimo melhor até do que os médicos, que nos tratam da saúde e que, ultimamente, até na imprensa têm sido vítimas de alguns vexames e enxovalhos...
Ora, todos sabemos a lentidão morosa e minuciosa como nos tribunais os processos se arrastam, a sobranceria com que juízes e advogados, mai-lo ministério público trabalham, sem que os próprios políticos se atrevam a chamar-lhes a atenção ou a pedir-lhes contas.
Finalmente, a nossa ministra da Justiça comprometeu, de forma lamentável, o governo democrático actual num acto de homenagem duvidoso a um passado ministro homónimo estadonovista.
Por isso eu subscrevo, inteiramente, e apoio as palavras (Da falta de noção) que Luís Aguiar-Conraria fez hoje publicar no jornal Público, sobre a Justiça portuguesa e seus ilustríssimos agentes.

terça-feira, 24 de dezembro de 2019

Uma reflexão sobre a memória, de Paul Valéry (1871-1945)


Porque será que o ser humano que envelhece vai perdendo muitas vezes a memória mais recente e reencontra as suas memórias mais antigas?
Como um quadro antigo que vai deixando aparecer as suas estruturas iniciais de base.
Como se o que é mais recente fosse pintado de forma mais ligeira e que o presente do homem envelhecido fosse cada vez mais superficial - desinteressado, enquanto que as lembranças do passado ou a sua sensibilidade readquirissem a força e intensidade primitivas.

Paul Valéry, in Mauvaises Pensées et autres ( B. de la Pléiade, vol. II, pgs. 842/3).

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Osmose 112


O homem era discreto e cliente habitual do pequeno quiosque, que costumo frequentar. Não lhe conhecia extravagâncias nem demasias que não fossem esperadas. Mas também estou habituado a que falem ou me respondam, às vezes e inesperadamente, em verso - para alguma coisa e com motivo dizem que somos um país de poetas e desgarradas...
Convencionalmente, na loja e à saída, eu despedi-me dos outros fregueses com um Feliz Natal. Mas quedei-me na soleira da porta, antes de enfrentar o manto leitoso de nevoeiro, ao ouvir um trautear poético do tal cliente discreto. E até lhe fixei a quadra imperfeita, que, na altura, achei bonita:

Há que medir a vontade:
de sossego ou de distúrbio
- escolher
o natal que se procura.

E, intimamente, até concordei com ele.


domingo, 22 de dezembro de 2019

Boas Festas


A todos os Amigos, Comentadores e nossos Seguidores, os melhores votos de um Feliz Natal e amplas perspectivas positivas  pessoais para o Novo Ano de 2020.

sábado, 21 de dezembro de 2019

sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Modas


Que me perdoem os liberais e relaxados consumistas deste mundo, mas escolher uma grande superfície para comprar um livro é, na minha opinião, uma prova justificada de mau gosto.
Agora, parece que o que estar a dar, pavlovianamente, é o uso da palavra Auschwitz no título de uma obra. Os leitores iscam que nem leitões nesses hipermercados. Sobretudo desde que Merkel lá foi, ao célebre campo sinistro, piedosamente.
Ou será o lobby que está a trabalhar afanosamente, nesta época natalícia?

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Pinacoteca Pessoal 159


O checo David Cerny (1967) já por aqui apareceu (1/9/2013), com uma sua escultura singular.
Este gigante sem pés (como lhe chamam, popularmente) personifica Franz Kafka (1883-1924) e foi executado, por Cerny, em 2014. A escultura ocupa uma zona frequentada pelo escritor de O Processo, que trabalhava, como advogado, numa companhia de seguros, nesta parte do centro histórico da cidade de Praga.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Uma louvável iniciativa 56


A classificação de escritor regionalista funciona para muita gente como um anátema. E, nessa medida, João de Araújo Correia (1899-1985) está na mesma linha que um Aquilino ou um Tomaz de Figueiredo, o que, no meu modesto entender, é uma lídima tradição portuguesa.
O jornal Público tem vindo a fazer acompanhar, as Terça-feiras, de um bónus que é um livro de escritores médicos. Ontem, calhou a vez de Araújo Correia. Cada volume - edição fac-similada da primeira publicada - custa 6,90 euros. Que me parece um preço justo.
Aqui fica a informação a quem possa interessar.

terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Recuperado de um moleskine (34)


Parece mais Janeiro do que Dezembro, pela laica algidez das perspectivas, mas chove miudamente ao fim do dia. E há um ralo nevoeiro que obscurece o horizonte curto da rua, à minha frente.
Será Simrockstrasse ou Inverness Terrace, na memória por cenário, em território hostil desgovernado? Pouco importa agora, de momento, à fixação escrita, do que foi real. 
As sinestesias funcionam muitas vezes por afecto. Outras vezes, a imaginação progride do desencanto ou do frio. Cá ou lá, os anos vão esgotando o possível.
Nascimento ou morte, por entre, reúnem.

Camille Saint-Saëns (1835-1921) - Aquarium

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Haikai



Será  que a vida é curta?
Pareceu-me bem longo
o sonho que tive.


Yokoi Yayu (1702-1783)


para H. N.

domingo, 15 de dezembro de 2019

Opções


O aspecto gráfico do TLS (nº 6087) mudou, recentemente, de forma radical. Duvido que para melhor.
Entretanto, o conteúdo manteve-se tradicional. E, como em todos os anos, o jornal literário ouviu 63 personalidades (escritores, críticos, intelectuais...) sobre as suas escolhas de livros publicados ou lidos em 2019 que tivessem colhido as suas preferências.
Curiosamente, no conjunto dos depoimentos apenas três nomes se repetem: Vladimir Nabokov (Think, read, speak), Michel Houellebecq (Sérotonine) e Jean-Baptiste Del Amo (Animalia); em relação a poetas, apenas W. H. Auden é referido mais do que uma vez.
Não sei, no entanto, a que se deva atribuir esta falta de consenso e convergência: se ao excesso de edições, se à ausência de um cânone de qualidade, nos tempos actuais. Ou simplesmente à diminuição de exigência de tudo aquilo que se vai publicando nos dias de hoje e, também, dos próprios leitores, i. e., consumidores.

sábado, 14 de dezembro de 2019

Adagiário CCCIII


A galinha que cacareja ou tem ovo ou chama galo.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Desabafo (51)


O que será que aproxima Ricardo Araújo Pereira de John Cleese?
A altura.
Os restantes acompanhantes são os anões da Branca de Neve.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Mercearias Finas 152

                                                                                                         Deambulações enológicas

Por mero e feliz acaso fiquei a saber que no Luxemburgo também se produz vinho. Branco, pelo menos, bom e nas margens do Mosela, no sudeste do Grão-Ducado. Acompanhámos, num restaurante do aeroporto, um fricassé de frango e cogumelos, com arroz branco, de um muito agradável Pinot Gris (em Itália, seria Pinot Grigio) monocasta, levemente frutado e mineral, com 13º. Equilibradíssimo.


Nos dias precedentes, restritos em sólidos e líquidos por razões alheias, tivemos no entanto o acesso a uns Riesling de Trier, que se cruzaram, razoavelmente, com umas massas frescas com carne picada e salpicada de mozzarella a dar-lhe sabor - cumpriram, alemães e episcopais, a sua função de acólitos, com os seus 11,5º suaves e macios de textura.


Aguardando a vinda de amigos, para prova condigna e certificada, na adega outrabandista repousa um Châteauneuf du Pape, desde Novembro a abeberar. Desta vez, tinto, nos seus poderosos 14,5º, com Grenache, Syrah, Mourvèdre e Cinsault, há-de bater-se, com galhardia - estou certo! - com queijos curados portugueses, de feição e qualidade serrana.


Será para meados de Janeiro, a funçanata, a que certamente não faltará, antes, um bacalhau no forno, post-natalício.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Lembrete 71


O dossiê do último Magazine Littéraire (Dezembro) é dedicado a Albert Camus (1913-1960). São 18 páginas de qualidade muito diversa, de vários colaboradores e com alguns excertos de obras do escritor. Só não recomendo efusivamente a revista porque me parece que, para os fãs de Camus, conhecedores da sua vida e livros, o número nº 24 do Magazine Littéraire, não trará nada de surpreendente ou de novo sobre ele.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Feiras


A palavra feira tem, à partida, um reflexo interior de oportunidade. Seja ela de gado, velharias, galináceos, livros ou vinhos, retinem-me, normalmente, no cérebro, campaínhas inefáveis, para não dizer celestiais. De fundição mourisca, judaica ou aciganada, elas fazem sentir o seu timbre.
Quanto a feiras, a minha maior desilusão foi a de S. Mateus, em Viseu. Andei anos desejoso de a conhecer, até que, há cerca de 10, por lá passei e me desiludi para sempre - um barrete aciganado de roupas e sapatos...
Feiras medievais, que hoje se fazem por todo o lado, também dispenso, embora tenha amigos embevecidos por elas que, sempre que podem as frequentam com religiosa devoção histórica. Mas eu já ando farto de ficção pindérica, disfarçada de literatura, como a que aparece pelas livrarias dos aeroportos, para contentar o vulgo pouco exigente.
Em tempos juvenis, às Terças-feiras e aos Sábados, já fui um assíduo cliente da Feira da Ladra, a Santa Clara, não prescindindo de subir a rua do Forno do Tijolo, por 2 alfarrabistas que lá havia pelo meio, mais uma loja repleta de discos de vinil que eu gostava de ver. E, por vezes, comprar.
Por agora, limito-me, quando me dá jeito, a frequentar aos Sábados, na rua Anchieta, a feira de livros dos pequenos alfarrabistas, alguns deles amadores. Se uns têm preços altos e irrealistas, outros são mais comedidos. E foi lá que adquiri, a preço razoável, estes três Luis Sepúlveda, recentemente. Que é também dos poucos autores de alguma qualidade que também aterram e aparecem nos escaparates dos aeroportos, no meio da tropa fandanga do costume.


sábado, 7 de dezembro de 2019

Regionalismos dos Arguinas (6)


Terminamos por hoje a selecção de alguns regionalismos dos arguinas, nome por que eram conhecidos os artífices da pedra, canteiros e pedreiros da região de Oliveira do Hospital. Os termos regionais foram criados por eles para melhor se entenderem entre si, mas também para não serem entendidos por estranhos à sua profissão e conservarem uma maior independência corporativa.
Pela singularidade deste linguajar localizado e beirão, de Santa Ovaia e Nogueira do Cravo, se interessou o jurista Francisco Correia das Neves (1929-2017) que veio a publicar, em 1958, o opúsculo Os Verbos dos Arguinas, sobre estes regionalismos, em edição de autor.
Do livrinho referido escolhemos os últimos termos e respectivos significados, como se seguem:

1. Piar - beber.
2. Pistar-se (ou bitar-se) - ver-se, avistar-se.
3. Quitar - ir.
4. Quiloas - horas.
5. Raivosas - cebolas.
6. Rufo - lume.
7. Santosa - igreja.
8. Trambúzios - feijões.
9. Vigareija - sardinha.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Buxtehude / Saorgin

Um CD por mês (8)


Pela sua intensidade, eu creio que os recitais de órgão devem ser ouvidos com parcimónia e espaçados, para melhor serem apreciados. E a época natalícia é uma estação propícia à audição.
Daqueles compositores que melhor cultivaram essa arte musical julgo que apenas Dietrich Buxtehude (1637-1707), pela variedade das suas composições, se aproxima de Bach.
Foi ao registo integral  da obra para órgão de Buxtehude que René Saorgin (1928-2015) se abalançou de 1967 a 1970, em órgãos de boa qualidade e em igrejas da Holanda, Alemanha e Suiça.
A edição num conjunto de 5 CD foi posta à venda pela Harmonia Mundi, em 1993. E eu tê-la-ei comprado na Valentim de Carvalho, ao Rossio, nos finais do século XX. É magnífica.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

Lang e Tati


A meio termo entre Metropolis (1927), de F. Lang, e Há Festa na Aldeia (1951), de J. Tati, ficaria talvez a Aldeia da Roupa Branca (1939), de Chianca e Beatriz, que poderia ser o aeroporto Sá Carneiro, no Porto, por onde também passámos, antes de regressarmos a Lisboa, provenientes, desta vez, do Luxemburgo.
O aeroporto da capital do Grão-Ducado reconciliou-me com o mundo das viagens aéreas, pela sua pacatez e dimensão humana, pelo seu serviço simpático. Sobretudo, depois de passar pelo inferno sofisticado e kitsch de Frankfurt, que me lembrou Fritz Lang ou, à volta, pela canhestrice lusitana mal-educada e parola das tias tripeiras da TAP-Porto, no check-in.
Foram quase duas horas luxemburguesas de cidade de província, com todos os aconchegos felizes, essas que nos repousaram e robusteceram de esperança, humanidade e fé nos outros, enquanto esperávamos o avião que nos traria de novo para Portugal. A destoar, apenas um bando de jovens africanos, acantonados em local à parte, que pareciam esperar a deportação - mas o mundo não é perfeito, já o sabíamos.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Citações CDXXIII


Apercebi-me que, normalmente, se diz até à vista, quando se espera não nos revermos mais - enquanto que, de uma forma geral, nos voltamos a ver quando dizemos adeus.

Sacha Guitry (1885-1957), in Toâ (1949).

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Palavras finais


Num dos seus últimos escritos, em prosa, Eugénio de Andrade (1923-2005), antecipando a entrada num prolongado silêncio final de cerca de 4 anos antes de morrer, fala de alguns versos fulcrais que o marcaram na relação essencial com quatro poetas e a sua obra. Refere, por exemplo, "os alciões chegados" de Nemésio, ou o "Só, incessante, um som de flauta chora" de Pessanha.
Se a qualidade misteriosa destes dois exemplos perfeitos e alheios, integrados nos seus poemas respectivos, é indiscutível, não é menos estranho que estes versos tenham percutido a sensibilidade de Eugénio de Andrade de uma forma tão impressiva e fundamental, tal como ele declarou nesse posfácio, escrito em Fevereiro de 2001, para um livro de poemas de José Tolentino Mendonça.
E é por aqui que talvez se possa começar, sem romantismos pueris, a falar do mistério da poesia.

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Apontamento 127: Surpresa





A flor de lilás [syringa vulgaris], com o seu cheiro agradável, sempre o associei ao mês de Maio. Era a época de floração dos diversos arbustos, de flores brancas e violetas, que cercavam a relva do jardim. O perfume da flor de lilás enchia também a casa, quando se espalhavam vasos pela sala e pelo corredor.

Vieram para cá vários pés desses arbustos e, actualmente, se encontram na varanda a sul. Ora, reparei anteontem que o meu lilazeiro tem uma flor, em Novembro. Que surpresa !

A imagem acima fica, pois, para memória futura.

Post de HMJ

Rearrumações


Camilo mudou de sítio e a Revista de Guimarães ganhou região autónoma, na nova estante do átrio. No entretanto, não consegui descobrir os dois primeiros Lobo Antunes, que ainda li, e não mais comprei. No local certo, das antigas estantes, não os encontro. Reapareceram-me, no entanto, obras esquecidas, como uns contos de Tchekhov (1860-1904), editados pela Atlântida (Coimbra, 1962), que agora ando a ler (ou reler?) com gosto e devagar, embora sejam bem pequenas as narrativas.
As novas estantes, milagrosas, não estão ainda cheias, mas olho, com algum desconsolo, para a secretária onde repousa uma parafernália de coisas e restos soltos que tenho dificuldade em voltar a arrumar em sítios convenientes. E que também não consigo imaginar-me a pôr no lixo...

terça-feira, 26 de novembro de 2019

Sylvia Plath (1932-1963)


Metaphors

Sou como se fora uma adivinha em nove sílabas,
Um elefante, uma casa imponente,
Um melão enorme suspenso de gavinhas,
Ó fruto maduro, marfim, ramos finos!
Este pão crescente de vivo fermento.
Dinheiro acabado de nascer na bolsa plena.
E sou também um nada, um palco, pele em flor.
Acabei de comer uma cestinha de verdes maçãs,
Mas além da carruagem não há mais saída.



Sylvia Plath, in The Colossus (1960).

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Ideias fixas 53


Desconfio de quem escreve muito. E começa cedo. Mais ainda de quem muito publica.
Ou é gago, ou não se soube explicar ou gosta de se repetir, continuamente.
Por único que seja, cada ser humano é sempre limitado.
Nunca seremos eternos a dizer.
A começar por este lado.

Bibliofilia 141


Com mais de 25 títulos publicados, os Cadernos de Poesia, das Publicações Dom Quixote, apesar do preço (Esc. 25/ 35$00) da época e modesta apresentação tiveram elevado prestígio nos anos 60/70, e muitos dos seus números esgotaram e vieram a ser reeditados (Neruda, Carlos de Oliveira, Vinicius, O'Neill...) posteriormente.
O volume 18, de Maria Teresa Horta (Minha Senhora de Mim), foi retirado do mercado, pela Censura estadonovista e obras de Natália Correia (As Maçãs de Orestes) e de Sophia (Grades) esgotaram, atestando o interesse que a poesia feminina despertava nos leitores de então.
Não creio que as tiragens fossem pequenas, mas ainda hoje estes livrinhos têm grande procura. Alguns são até muito pouco frequentes, nos alfarrabistas, e, quando aparecem nas lojas ou em leilões da especialidade, saem caros.
Um dos casos mais sintomáticos é o volume 19, desta colecção, editado em 1971. Anotem-se, para exemplo, os três preços mais de recentes (2019) de Vocação Animal, de Herberto Helder:
- Leilão online da Olx (Agosto) : lote vendido por 50 euros.
- Na BestNet, exemplar arrematado por 100 euros.
- No próximo mês de Dezembro (4 e 5), a Livraria Olisipo (lote 310) anuncia um exemplar, com uma estimativa de venda entre 100 e 200 euros!
Donde se poderá concluir que Herberto Helder é um valor seguro, até porque nem todos os poetas que constam dos Cadernos de Poesia, da Dom Quixote, atingem este elevado preço...

domingo, 24 de novembro de 2019

Em prol do genuíno

Ainda uma questão de saios


Entre os kilt abastardados nos corredores do Parlamento português, vindos de Oxford (como?), ou as saias dos evzones gregos, admitindo porém as tradicionais sotainas que à religião pertencem, sempre prefiro os saiotes dos trauliteiros lusos de Miranda. Mesmo que sejam celtas de origem. Para não falar do loudel ou pelote, que já D. João I usou em Aljubarrota e se guarda esfiapado e multicentenário no vimaranense Museu Alberto Sampaio.


sábado, 23 de novembro de 2019

Escrever bem


Que queremos dizer quando dizemos: Fulano escreve bem?
Se é um dado adquirido e uma verdade insofismável que ninguém discute a qualidade da escrita do escalabitano Fr. Luís de Sousa (Manuel de Sousa Coutinho) ou de Camilo, outro tanto será arriscado afirmarmos sobre a ficção de Hemingway ou de Mann, porque, no fundo e na maior parte destes casos, os livros passaram pelo crivo de melhores ou piores tradutores, quando os lemos na versão nacional. E se Fiesta (The Sun also rises) ganhou, em português, pela pena de Jorge de Sena, também já li algumas traduções de Mauriac, por exemplo, de péssima qualidade...
Elegância, clareza, ritmo, a proporção equilibrada das frases são factores a ter em conta - creio.
Mas se prefiro, talvez, o estilo sucinto de Cardoso Pires na esteira objectiva de Hemingway, não deixo de admirar a construção poderosa e inteligente de António Vieira, que me faz lembrar Quevedo.
O resto terá de sentir-se mais por intuição advinda de uma longa experiência vasta de leituras. E se tivermos sentido crítico que, normalmente, não abunda por estas paragens lusitanas...

sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Titular com os pés


Ora reparem-me neste cabeçalho de notícia, do jornal Público de hoje.
Terá de provir, naturalmente, de uma cabeça muito desarrumada, pelo menos.

Hassler / Leonhardt

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Citações CDXXII


O romance... é, antes de mais, um exercício de inteligência ao serviço de uma sensibilidade nostálgica ou revoltada.

Albert Camus (1913-1960), in L'Homme révolté (pg. 327).

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Miscelânea


Uma publicação alemã, que também promove viagens, tem alguns dos seus destinos turísticos para a passagem do ano já esgotados. Um dos primeiros foi Lisboa e, por isso, não será tão cedo que nos livramos desta massificação desordenada, ruidosa e fotografante.
Esta sofreguidão pelo futuro pouco tem de consistente. Os picos da novidade ou interesses momentâneos correspondem apenas a meros caprichos que o poder mediático explora para ganhar audiências da corrente acarneirada dominante e da publicidade paralela e correspondente.
Neste mês de Novembro, e em pouco mais de uma semana, calaram-se três vozes portuguesas - duas fadistas e um cantautor. Logo o Arpose teve um pico de audiência sobre dois dos nomes que constavam do registo do Blogue, no dia e seguintes a estes dois óbitos nacionais. Mórbida atracção de vários anónimos e desconhecidos peléns que, decerto, nunca frequentaram sequer o Arpose.
Acrescente-se, por equilíbrio e por uma questão de justiça, ao obituário, o nome de Argentina Santos (1924-2019), nonagenária e fadista estimável, que não constava do registo do Blogue.
Agora, já consta...

Pinacoteca Pessoal 158


É reconhecido que a pintura inglesa começa a ganhar personalidade própria e a libertar-se de influências continentais a partir do século XVIII. Nesta medida, William Hogarth (1697-1764) é um dos grandes pintores britânicos dessa época.


Gravador e ilustrador reconhecido pela qualidade dos seus trabalhos, mas também pelo seu lado satírico, truculento com que criticava os costumes, a sua forte auto-confiança permitiu-lhe ser respeitado e temido e desafiar os poderes constituídos, desde a Justiça até à Igreja.


Da sua vasta obra é de destacar a série Marriage À-la-Mode, constituida por 6 telas e executada entre 1743 e 1745. Bem como o retrato insólito e realista de 6 dos seus criados.

terça-feira, 19 de novembro de 2019

Divagações 155


É de manhã que trabalham, em coisas leveiras, fátuas, com imagens estridentes de mau gosto kitsch e parolo. Noite dentro também serve para compensar insónias e a incompletude dos dias. Nos blogues e seus donos e donas administrativas.
Qual será afinal a época mais confortável de morrer? A casa VIII, astrologicamente fatal, a VI pela saúde, ou até a casa I marcando a personalidade vincada da desistência (se for o caso)? Ou ainda a XII? A ver vamos, se houver tempo útil...
Venha o diabo e escolha. Pela Primavera, ficaremos talvez com saudades da luz, pelo Inverno é a terra que estará fria e desconfortável, para nos abrigar. Felizmente, estaremos imotos e insensíveis, nessa altura definitiva, exacta.
Deus haja!

José Mário Branco (1942-2019), inesperadamente

Uma fotografia, de vez em quando... (134)


Recentemente falecida, a britânica e judia Sally Soames (1937-2019) trabalhou fundamentalmente como fotógrafa para The Observer e para The Times. Retratista dotada, em boa parte da sua obra, é notória a sua faculdade inata para fixar pela expressão a personalidade principal dos seus modelos.


Desde o felino olhar cerval de Blair à quietude tranquila, ligeiramente tímida (ou irónica?) de Updike, Sally Soames tentava captar intimamente o modo de ser de quem retratava. Em 1966, terá passado toda uma tarde com Orson Welles, antes de o fixar para sempre através da sua objectiva.