sábado, 27 de janeiro de 2018

As palavras de ontem


Só hoje dei por uma crónica de António Bagão Félix (1948), sobre o direito ao silêncio. Num jornal que cada  vez sinto mais afastado de mim, na sua deriva direitista que se iniciou, mais ostensivamente, desde a entrada deste último director, que tinha sido assessor do anterior PR. Et pour cause...
Transcrevo o início da crónica de A. B. F., por me parecerem justas e oportunas as suas palavras:

"O silêncio é agora urbi et orbi quebrado pela autocracia do som ainda que musical. Na espera dos telefones onde nos impingem músicas e ritmos que não pedimos e que nunca ouviríamos, a maior parte das vezes para intervalar um serviço de atendimento permanentemente entupido ou deficitário de qualidade. Uma pessoa em desespero e luto é agredida com um alegre folclore ou música pimba que àquela hora a apanhou num telemóvel. Nos elevadores, a má-criação de um mau silêncio de quem não tem a educação mínima de cumprimentar quem entra ou sai, é envolta numa qualquer musiqueta de pacotilha. Nos transportes ou nos táxis, o seu utilizador tem de aturar, sem dar autorização, música rasca ou anúncio aparvalhado. ..."

Ironicamente, eu chamaria a isto a verdadeira ditadura do proletariado, sobre as minorias.

6 comentários:

  1. Infelizmente, é verdade tudo o que descreve A.B.F.. E o silêncio faz tanta falta - por isso, é que faço caminhadas também (liberta-me o espírito do ruído).
    Bom fim-de-semana!

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    1. De uma forma geral eu tenho a ideia de que os portugueses convivem mal com o silêncio: em salas de espera, em bichas... Mas, para mim, ele é salutar e, muitas vezes, absolutamente necessário.
      Retribuo os votos, muito cordialmente.

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  2. Concordo, e sinto que cada vez mais o barulho nos é
    imposto, concretamente na música que não queremos ouvir.
    O silêncio quase deixou de existir. Bom domingo.

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    1. Por vezes, até nos prédios, e grandemente por deficiente construção, o ambiente lembra a "central das frases" do O'Neill...
      Retribuo, cordialmente.

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  3. Subscrevo as palavras do cronista Bagão Félix, porque o silêncio perdeu-se e aproveito para referir um ruído quotidiano existente num transporte público: entram os passageiros num autocarro e cada um vai para um lugar diferente e começam a falar aos gritos uns com os outros, porque um vai junto do motorista, outro perto da porta de saída, outro no inicio da parte de trás e por fim o último na rectaguarda do autocarro. Esta situação repete-se quotidianamente, o que me levou a desistir desta carreira e não adianto mais...
    Por outro lado aprecio o silêncio da composição 4:33 de John Cage, ou o álbum "Spinner" de Brian Eno (última faixa), assim como o "Flow Goes the Universe" de Laraaji que nos oferece cinco faixas de silêncio para usarmos como muito bem entendemos na audição do seu trabalho discográfico.
    O silêncio está já cheio de musicalidade.
    Votos de um bom domingo!

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    1. Vivemos um tempo de excessos: informação, ruido, imagens...
      Não sei se foi contra a desmesura destas últimas, que J. César Monteiro reagiu no seu "Branca de Neve", com o filme a negro...
      Um bom Domingo, também!

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