quarta-feira, 11 de maio de 2016

Recuperado de um moleskine (21)


Entre o sono e o nada, há o chão molhado da madrugada, onde os candeeiros da rua se reflectem como num espelho envelhecido, de face desgastada. Amarelos, porque coados pelo vidro da janela, ensalitrado e empoeirado, que lhe retira a nitidez precisa da realidade. O mar é também uma fantasmagoria, ao longe, com pequenas orlas brancas de espuma das ondas que vêm morrer à praia.
O som sacolejante dos pequenos malotes de lata dos pescadores nocturnos que, de Sul para Norte, pelas ruas da pequena vila piscatória, se dirigem para os barcos anoitecidos na areia. Tilinta de metal a memória de Agosto, como as vozes cavas ecoam no ar lavado da madrugada. Mas o lamento inesperado da ronca parece vir enevoar a noite ainda presente. E tudo se embrulha, de novo, na imaginação.

5 comentários:

  1. Que belo pedaço de escrita! Quem sabe, sabe! Obrigada por partilhar. Gostei muito. Boa tarde!

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    1. O Atlântico, mesmo que da ventosa zona Oeste, desperta sempre o melhor que há em mim...

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  2. O barulho do mar ao longe.
    E muitas vezes se embrulha nos meus
    pensamentos, de saudades.
    Palavras que fazem sentido, com poesia.
    Boa noite.

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  3. Há sempre um regresso, para os lados da infância ou da adolescência...talvez um pouco mitificado, é certo.
    Boa noite.

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