quarta-feira, 18 de maio de 2016

De Nicanor Parra


Auto-retrato

De estatura mediana e voz
nem delgada nem grossa,
filho decano de um professor primário
e de uma modista que atendia em casa;
débil por nascimento
ainda que devoto em boa mesa;
de faces esquálidas
embora abundante quanto a orelhas;
de rosto quadrado
onde os olhos mal se abrem
e um nariz de boxeador mulato
por cima da boca de um ídolo azteca
- tudo isto banhado
por uma luz entre irónica e pérfida.
Nem muito ágil nem tonto no remate
fui o que fui: uma mistura
de vinagre e azeite de comer
um embutido entre o anjo e a besta.


Nicanor Parra (1914), in Epitáfio (1970).

7 comentários:

  1. Não conhecia este poema. Gostei.
    Este irmão da cantora tecedeira foi editado pelo nosso Nascimento.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Hei-de procurar o livro..:-)
      Ainda bem!

      Eliminar
    2. Em Santiago do Chile. :)
      Bom dia!

      Eliminar
    3. ... ou na "ebay", que é todo o mundo..:-). Pequenino, quanto a horizontes.

      Eliminar
  2. Gostei também. Nunca tinha lido um auto-retrato poético e este é notável. Bom dia!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Também gostei, daí ter traduzido. Bocage, Nemésio e O'Neill também têm bons exercícios nesta temática.

      Eliminar
  3. Do Bocage lembrei-me agora (que o disse). Os outros não conheço mesmo, vou procurar. Bom doa!

    ResponderEliminar