Numa recente entrevista, Eduardo Lourenço (1923) referia-se, e por palavras suas, a que: só existimos em função dos outros. Eu acrescentaria que, em casos extremos, nós somos e temos razão de ser nos outros. Finalmente (referi-o há dias), só vivemos a morte nos outros e dos outros, que a nossa é sempre imaginavelmente abstracta e presumível, mas nunca será vivida, em consciência total. Como também, conviria acrescentar, que a palavra sobrevivente (de um acidente, da guerra, do holocausto...) é das mais falsas do vocabulário universal, quando aplicada ao ser humano, porque a morte nunca interrompe o seu curso. Apenas o pode adiar.
Voltando aos outros. Que são o nosso espelho real, e reflectem, mais ou menos conscientemente, as nossas diversas facetas. Há amigos com quem (melhor) pensamos e amigos com quem (melhor) sentimos. Amigos com quem partilhamos leituras e aqueles com quem vamos construindo um breviário estético de eleição perene. Amigos que escolhemos para viver alegrias e outros que melhor sabem acolher a nossa tristeza. Ou a sabem compreender. Por uma ruga na face, um nublado olhar, um embargo de voz.
Como as almas gémeas são raras e as afeições electivas, difíceis, também por aí nos temos de dividir, para ser, completadamente.
Algumas vezes são pequenos sinais que nos fazem aproximar
ResponderEliminardos outros. Raramente conseguimos as afinidades que
desejaríamos.
Gostei muito do seu texto.
Boa noite e boa semana.
Agradeço as suas palavras, e concordo inteiramente com as duas primeiras frases do seu comentário.
EliminarEmbora, às vezes, me surpreenda a quantidade de amigos que algumas pessoas têm. Porque uma grande amizade é sempre rara e preciosa, mas também exigente, do meu ponto de vista.
Retribuo, cordialmente, os seus votos.