domingo, 1 de maio de 2016

Passado, presente e futuro



Ao princípio, era o Charneco, vinho que já na primeira dinastia se exportava para longes terras. Com a fruta e o sal que eram as nossas únicas, grandes riquezas. Ao contrário do que se possa pensar, esse vinho era produzido na região de Lisboa. Desconhecidas são porém as castas de que era produzido. Até há poucos anos, no entanto, e na zona da capital, pontuavam apenas os vinhos de Colares, com a casta Ramisco, e os de Bucelas, brancos, feitos de Arinto. Mas, segundo notícias recentes, a Casa Santos Lima, produtora conceituada, irá reactivar uma velha quinta, ali para as bandas do Aeroporto. Que, até ao início do séc. XX produzia vinhos de alguma qualidade. Desconheço também que castas virá a utilizar, mas é possível que venha a usar as que constam no quadro da imagem acima.
Ladislau Batalha (1856-1939) que, com Azedo Gneco, fundou o primitivo Partido Socialista português, na sua interessante obra "Curiosidades da História Portuguesa" dá-nos algumas informações importantes, embora já desactualizadas sobre vinhos, e adágios portugueses, que passo a transcrever:

"...Os nossos vinhos eram  abundantes, chegando a ser considerados dos melhores e mais afamados os de Alvôr, Vila Nova de Portimão, Lagos e Évora, especialmente os de Peramanca.
Como povo impulsivo, levámos os excessos de cultura da vinha ao estado de febre intensa:
- «Em cada prado uma vinha e em cada bairro uma tia» - diz-nos o precioso adágio do século XVI.
Na conta dos vinhos finos entravam os brancos de Beja e os palhetos de Alvito, Viana, Vila dos Frades e Alcáçovas.
Os de Alcochete e Caparica destinavam-se á exportação para Flandres e outras partes da Europa, além dos que saíam para abastecimento das armadas e fornecimento para as Indias Orientais, Angola, Mina e Brasil.
Com disvelo dizia o povo envaidecido: - «Queijo do Alentejo e vinho de Lamego.»
Vendia-se então em Lisboa o vinho mau pelo preço do bom. Sobre o assunto havia opinião bem definida: - «Vinho é sangue de Cristo». ..."

E, entretanto, foram-se as coisas modificando. Que o mundo não pára e o homem é irrequieto.

4 comentários:

  1. Havia muitas vinhas em Lisboa, melhor: no que era o Termo de Lisboa. Há um artigo de Fernando Castelo Branco sobre o assunto: «Vinho e vinhas em Lisboa». Se lhe interessar, arranjo-lhe uma fotocópia.
    Essa ideia de irem plantar uma vinha naquela zona onde se fazia a Feira do Relógio, numa das saídas de Lisboa, junto ao aeroporto... Poluição não deve faltar.
    Bom dia!

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    1. Candidato-me, afectuosamente, à fotocópia do texto F. C. Branco, que não conheço..:-)
      Também diria que o local não me parece o melhor, muito embora preze os resultados (vinhos) da Casa Santos Lima. Veremos.
      Bom dia!

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