terça-feira, 28 de junho de 2011

Lisboa, pisando a terra

Em luz, os dias ainda vão crescendo devagar. O "Aladino" piscou os olhos às 21,16, o irmão mais novo, o "Pirilampo", só deu sinal dois minutos mais tarde. As andorinhas outrabandistas vão altas, hoje, prenúncio de bom tempo. Mas ontem não as vi em Lisboa.
Vamos que a Exposição ainda não estivesse fechada, e eu não teria feito o itinerário pedestre, quase em duplicado. Também não teria ouvido por mais de uma hora, até à exaustão e para lá do que podia suportar, música bossa-nova requentada, em casa amiga. Por direitos de minoria, quase exigi, urbanamente, Elis Regina e, depois, Ella Fitzgerald, em comum acordo. Deu para respirar fundo e não ficar irritado.
Valeu depois a companhia inesperada e grata, ao jantar, na esplanada tranquila. Acabada que foi, soberbamente, a refeição, nos eflúvios de uma "Alvarinha" caseira, depois do café, cujo furor divino, e aromático, foi aplacado por uma pequena pedra de gelo - que a noite de Junho ainda estava morna e não havia vento. O serviço, a cozinha e a companhia ajudaram a esquecer a tarde. Depois, foi a pedestre descoberta, pelas ruas silenciosas e interiores de Lisboa.
Desde a loja Rosacruz, numa rua quieta, ao busto equilibrado de Wellington do pequeno Largo triangular, creio que entre a Saraiva de Carvalho e a Rua D. Dinis, muito chegado ao Cemitério Inglês, onde descansa Fielding. Mas antes, já tinhamos passado por aquilo que fora uma das casas de Garrett. Transformada, e já sem azulejos, num condomínio pardo e sem graça. De uma arquitectura baça e neutra, talvez para disfarçar o luxo das madeiras exóticas e das piscinas interiores (que um distinto ilhavense, que já foi ministro, não dispensa a água...). Até porque isto de cultura, cada um toma a que quer e sabe.
Despedimo-nos, no Rato, e eu segui e bisei, no mesmo dia, o percurso que já fizera de tarde. No Príncipe Real, para intervalar o passo já um pouco cansado, sentei-me na esplanada do Quiosque para beber o terceiro café dessa noite. A Catarina Portas terá agradecido, de forma imaterial e abstracta, a despesa. Mas eu arrependi-me: tive uma insónia dos diabos!... E parecia-me ouvir, interminavelmente, bossa-nova.

para ms, afectuosamente.

5 comentários:

  1. Ainda não vi a casa com projecto de Manuel Tainha que substituiu a casa de Garrett. Costumou-me a engolir que Manuel Tainha (arquitecto de que gosto) tivesse aceitado esse projecto.

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  2. Francamente, não gostei nada, MR, embora não choque, no seu enquadramento exterior. Parece-me uma arquitectura "nim". E também tenho que concordar que nem tudo pode ser conservado ou transformado em museu...

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  3. Obrigado. O Whellington foi o primeiro por onde passámos, no largo do antigo British Hospital que entretanto se mudou para a zona da Luz.

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  4. Costumou-me = custou-me.

    Claro que não há dinheiro que chegue para manter as casas-museus. E também já não havia nenhum recheio para organizar o museu. Mas deitarem a casa abaixo.

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