O noroeste peninsular, seja ele espanhol (Galiza), seja português (Minho), faz uso abundante de diminutivos para expressar carinho, sublinhar ternura e derramar sentimentos de caridade, em relação aos infelizes (coitadinho), aos deficientes (ceguinho), aos frágeis e desprotegidos da sorte (pobrezinho) e até mesmo em relação às crias pequenas (cãozinho, cabritinho), etc.. Como, do Minho, foi a minha meninice e adolescência, também não estou imune a este hábito enraízado.
Mas este costume também se fez norma de afecto noutras terras de língua portuguesa. Por exemplo, o primeiro aleijadinho que se me gravou na memória cultural, foi o luso-brasileiro António Francisco Lisboa (1730-1814), santeiro de pedra, genial, com as suas obras de Congonhas (Brasil), além de outras. Pois o mestre escultor é muito mais conhecido pela alcunha (Aleijadinho), do que pelo seu nome de baptismo.
O segundo aleijadinho, na minha memória histórica, só o foi para o final da vida, e era americano e hemiplégico. Soube combater, corajosamente, a Depressão de 1929 e teve um papel preponderante na vitória dos Aliados contra o nazismo, durante a II Grande Guerra. Refiro-me a Franklin D. Roosevelt (1882-1945).
O terceiro aleijadinho, de recordação mental, é português. Um acidente de helicóptero, amarrou-o à cama, durante largos meses, pouco depois do Verão quente do PREC de 1975. Era Pires Veloso (1926), general, e pela sua influência e poder chamavam-lhe, então, vice-rei do Norte. Todos os políticos portugueses o iam visitar - era de bom tom, e importante - para lhe pedir conselhos ou obter o seu apoio, na altura. Hoje, pouca gente se lembrará dele.
Este trio de aleijadinhos, de que falei, é-me simpático. São aleijadinhos da minha estimação e memória. Mas passemos ao quarto, e último dos deficientes.
Vítima de um atentado, em 1990, que o deixou hemiplégico, o quarto aleijadinho é o todo poderoso ministro (europeu) das Finanças, alemão, Wolfgang Schäuble (1942). Diz com sobranceria e arrogância tudo o que lhe vem à cabeça e insulta, economicamente, sobretudo os países do sul da Europa, impunemente. Foi preciso o Presidente da República grega, Karolos Papoulias (1929), há dias, responder-lhe à letra, ofendido, para ele se calar, na sua cadeira de rodas. Infelizmente, a grande maioria dos políticos europeus quase ajoelham em frente a este aleijadinho de corpo e alma - porque nem todos têm espinha dorsal erecta.
Acho que vou deixar de lhe chamar aleijadinho, esquecendo a compaixão minhota. Vou passar a apelidá-lo de: vice-reizinho da Europa. Porque a Rainha, já nós sabemos quem é...