sexta-feira, 20 de maio de 2016

Divagações 112


...Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..., como disse Pessanha, a que eu ajuntaria pequenos juncos que vieram dos canaviais das margens do Sizandro, arrumar-se em cónicos e breves montículos na pequena praia de escassas areias, porque estava maré cheia. Dois ou três jovens pardais, da cor da fuligem, saltitavam e debicavam nessas breves colinas de lixo natural, em busca de não sei o quê.
O Sol declinava. À distância, parecia estar apenas a um metro da altura das águas e iluminava nuvens que iam do sulfúreo ao cinzento, passando por um róseo e um ainda mais escasso azul, tímidos. No pequeno bar-restaurante, meia dúzia de estrangeiros jantavam e nós bebíamos café. Um velho lobo do mar encostava-se ao balcão e beberricava um copo de tinto. Ciclicamente, olhava para trás, em direcção ao pôr-do-sol. E entoava, baixo, uma cantilena.
A uma sibilina pergunta da empregada do balcão, respondeu, alto: "Estou a ver se, desta vez, vejo o raio verde!"
E foi aí que eu me lembrei do meu Pai e de Júlio Verne...

5 comentários:

  1. E continuou beberricando... :)
    Bom dia!

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    1. Absolutamente..:-) Não sei é se foi beneficiado pela imagem (divina) do raio verde... Eu, pelo menos, que estava em boa posição estratégica,não fui..:-(
      Boa tarde!

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  2. O "meu" rio tem apenas a diferença de uma letra é o
    Lizandro. No Inverno as margens enchiam-se das coisas
    mais estranhas que imaginar se pode. Era um entretenimento.
    Depois tudo ia desaguar no mar.Divagações com mar ao fundo,
    ligeiramente plagiado.

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    1. Rastejei por lá, pelas suas areias na foz, aquando da minha recruta, em Mafra, no longínquo ano de 1968... Agora, quando por lá passo, vejo-o com mais simpatia, já desobrigado.
      Já um dia por aqui falei dos rios da minha vida que, por ordem cronológica foram: Mondego, Selho (é mais um ribeiro), Ave, Tejo, Vouga, Lizandro, Reno...
      Um bom fim-de-semana!

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    2. A título de curiosidade, se quiser dar uma espreitadela, Maria Franco, deixo-lhe a indicação do poste em que falo do Lizandro: "Inventário sucinto sobre os rios que vão", de 3 de Março de 2011.

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