quinta-feira, 31 de maio de 2012

Gentilezas, na manhã


Eu devia vir, ainda, com um olhar alumbrado ou perdido, porque o Segurança amável, já depois de eu me ter aviado num balcão dos CTT dos Restauradores, quando me dirigia para a porta de saída, me perguntou, solícito e prestável: "- O Senhor já foi atendido?" Respondi-lhe que sim, agradecido. Mas o meu olhar, provavelmente confundido, vinha de trás, no tempo e no local. Foi na rua Garrett.
A meio, vinha eu a descê-la, alguém me interrompe o passo decididido, com um "Olá!" amigável, em voz melíflua. Olho o rosto, em frente, e acho-o parecido com aquele corpanzil das Secretas, megalómano (Pedro Lomba dixit), que passou informações a Relvas e que, agora, passa todos os dias nos telejornais, como em tempo de seca costuma passar aquela vaca (sagrada) morta e esquálida, do Alentejo. Ora, aquele rosto, à minha frente, eu não o identificava de lado nenhum, por isso, perguntei: "-Conhecemo-nos?"
O homem, com cerca de 40 anos, resmoneia qualquer coisa rápida, como: "Bes...Millenium..." E, a páginas tantas, eu já tenho, na mão direita, um relógio reluzente com pulseira metálica dourada, e ele a continuar: "- ...sobrou da promoção e, como é cliente..." E eu, estupefacto, recebo também na mão um cartão de visita, que o homem tirou do bolso, num instante. E ele a continuar, sedutor: "- Depois vai pagar ao Banco, não se preocupe, se não quiser ou puder pagar-me a mim..." Um minuto depois, enquanto, vou recusando timidamente ("já tenho um Tissot e um Longines, não preciso de mais relógios!"), o "bancário de rua" acrescenta-me mais um relógio (desta vez, prateado), na minha mão direita. Acrescenta: "-São só 40 euros, porque sobraram da promoção do Banco." Como eu continuo a recusar, reforça: "- Faço-lhe 20, mas se não tiver, aí, o dinheiro, pode ir pagar ao banco..."
Quando me consigo libertar do assédio, na rua Garrett, a frio, começo a pensar que o homem, parecido com o Silva Carvalho (em corpanzil) das Secretas, queria que eu tirasse a carteira do bolso, para ma roubar e fugir. Deixando-me com 2 relógios na mão e um cartão de visita, falso. Irra!...
(Fica o aviso: rua Garrett, relógios - a história é verdadeira.)

2 comentários:

  1. E a citação de José Sousa Gomes vai também servir para aqui: «O Chiado não é Lisboa, Lisboa não é o País, mas a verdade é que para conhecer o País é necessário conhecer Lisboa e para conhecer Lisboa é necessário conhecer o Chiado.»
    :-)))

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  2. Muito oportuna, a citação..:-)

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