quinta-feira, 24 de maio de 2012

Aquilino, Brito Camacho e Aljustrel


Eu já não lia Aquilino, há muito. Mas, ignorante que sou dos grandes vultos da República (1910/1925), tirante Teófilo Braga, Teixeira Gomes e pouco mais, encetei, há dias, um livro a duas mãos: Brito Camacho (1943?), por Ferreira de Mira e Aquilino Ribeiro. O primeiro traçando o perfil do homem público, Aquilino fazendo o retrato do homem de letras, que Brito Camacho também foi.
A frescura da escrita do Mestre vem logo à tona. Ora leia-se de Aquilino Ribeiro, embora ajudado por citação popular, esta pitoresca descrição de Aljustrel, terra natal de Brito Camacho, num pequeno excerto:
"...Aljustrel é vila populosa, anterior à fundação do reino, situada no fundo dum alguidar sem profundidade, picada a campina de leves acumulações como lago beliscado pelo vento. A terra ali não ondula por vagas longas e roleiras como no Alto Alentejo, os acidentes, pequenos encrespamentos do solo, sucedendo-se uns à espalda dos outros fora de linha e ordenação. Ouvi dizer a um cabreiro: «Quando o mundo se fêz mundo, isto era uma caçoila de papas a ferver. Arrefeceu de repente e ficou com estes borbotões coalhados.»..."

2 comentários:

  1. Gosto muito de Aquilino. O trecho transcrito é soberbo. :)

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  2. Como o texto de Aquilino se segue ao de Ferreira de Mira (bem escrito, no entanto), o contraste ainda é mais flagrante...

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