quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Mistérios e falsos títulos ou soluções


Cheira a pão quente na rua, inexplicavelmente. À sugestão de flanela húmida, que a chuva deixou no ar. E ao passar junto ao pequeno e despretencioso café-restaurante, contíguo ao quiosque, aonde vou comprar o jornal, vem-me o odor intenso que tanto pode ser da base de um guisado como do estrugido para um arroz de acompanhamento, para o almoço de hoje. Não virei a saber, porém, qual deles se prepara, no interior do estabelecimento...
Nunca gostei muito de mistérios, a não ser para solucioná-los ou para ensaiar hipóteses de explicação.
Daí o meu gosto, desde jovem, por romances policiais, desde que cumprissem as regras clássicas e, ao longo da leitura, eu pudesse ir especulando sobre quem seria o possível assassino, baseando-me nos indícios concretos da narrativa.
Na adolescência, interessei-me largamente e durante muito tempo pelas misteriosas estátuas das Ilhas de Páscoa, que constituem território do Chile. Os gigantescos blocos de pedra, em local onde ela era escassa, eram um fenómeno estranho e de difícil explicação. Datados de meados do século XIII, os meios de transporte naval eram pouco mais que rudimentares, na altura e, assim, pareceria impossível que a pedra tivesse vindo de outros locais, para as Ilhas, por mar. Por terra, dado o isolamento  islenho, também não.
Creio que li, há muito tempo, 2 ou 3 livros sobre o assunto, mas que não avançavam nenhuma credível explicação ou solução para a existência, nesse local, das centenas de estátuas de pedra lá erigidas. O mistério ficou assim por resolver.
Ora, hoje de manhã, no Expresso-online, deparo-me com o pomposo título: Resolvido enigma das estátuas gigantescas da Ilha de Páscoa. Rejubilei! Ia finalmente conhecer a explicação do mistério. Depois, foi a desilusão total. Que "uns arqueólogos norte-americanos", que "junto a fontes de água doce", que na "revista Plos One", que "de terras férteis para culturas agrícolas, como a batata doce"... Sobre como a pedra, de que foram feitas as estátuas, lá fora parar: NADA! A montanha (título) tinha parido um rato (notícia vaga, sem a concreta explicação).
É assim que o jornalismo irresponsável e rasteiro engana e ilude o pagode com títulos bombásticos e apelativos.
Por isso, o mistério continua...

8 comentários:

  1. Eis um local que gostava de visitar e também me desperta interesse. O mais perto que estive de uma estátua destas (e não sei se era verdadeira) foi no Oceanário de Londres... como foi bom andar à volta do tanque principal e sonhar :-)
    Não me parece que o mistério tenha solução, mas que gostava de saber quem as fez, bem que gostava!
    Boa tarde

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    1. Ao Oceanário londrino nunca fui, mas fiquei siderado com a quantidade de múmias egípcias que havia no Museu Britânico, quando lá fui.
      Uma boa tarde, também.

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    2. Entrei no Museu Britânico à procura da Pedra da Roseta. Por ter virado para o lado errado logo no início da visita, sé a encontrei à saída :-)
      Mas também fiquei abismada com a quantidade de tudo, incluindo as múmias!
      Aí também foi o meu primeiro "contacto" com turistas a tirarem fotos a tudo até a um fundo de parede branco, sem nada que dissesse onde estavam ou o que estavam a ver. Fascinante!
      Bom dia

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    3. O excesso acaba por anestesiar-nos, banalizar e nos cegar à observação cuidada e atenta. Foi, de algum modo, o que me aconteceu com as múmias do Museu Britânico, pela excessiva quantidade.
      Vi com muito mais atenção os dois exemplares que se guardam no Museu Nacional de Arqueologia, aos Jerónimos. Que foram apreendidas a um navio alemão, que vinha do Egipto, no início da I Grande Guerra.
      Bom dia.

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  2. É realmente um bom mistério :-) Bom dia!

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  3. Devem ser impressionantes ao vivo.
    Bom dia!

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