quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

A evitar, absolutamente (3) : "Cheio de Vida", de John Fante


Dificilmente se compreende a tradução e  publicação de algumas novelas e romances que enchem as montras de muitas livrarias portuguesas. Provavelmente, dentro de 10 a 20 anos, ninguém se lembrará, por exemplo, de John Fante (1909-1983), menos ainda a história literária norte-americana registará o seu nome.
Mas por cá, um ex-ministro da cultura e dois ou três recenseadores gabaram esta coisa menor, que eu li, penosamente, porque ma tinham oferecido, há cerca de 2 anos. E umas costureiras de retalhos que administram uns blogues, ditos literários, teceram loas palermas a este livro, decerto, a troco de uns trocos...
A evitar, absolutamente, em nome da autêntica literatura!

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Caricaturas e Artistas


Tenho um enorme respeito pelos bons caricaturistas. A sensibilidade para identificar a singularidade de uma face, através do extremar de um dos componentes (nariz, orelhas, boca, cabelos...) desse rosto, de forma a ser possível identificá-lo de imediato, requer um dom particular. Depois, a economia de meios, com apenas traços capitais, normalmente, simples e lineares. A que se junta, às vezes, o humor.



Tivemos, nós portugueses, e temos ainda grandes caricaturistas nacionais. Mas, até há pouco tempo atrás, se eu tivesse que escolher o meu caricaturista preferido, não hesitaria em nomear o norte-americano David Levine (1926-2009). Até que, há duas semanas, vim a descobrir a magnífica obra do também norte-americano Al Hirschfeld (1914-2000). Deixo alguns exemplos, facilmente identificáveis...


domingo, 25 de fevereiro de 2018

Uma fotografia, de vez em quando... (103)


Assumidamente autodidacta, o fotógrafo norte-americano Duane Michals (1931), a pedido do governo mexicano, cobriu os Jogos Olímpicos de Verão, em 1968. Assim como trabalhou e colaborou com as revistas Esquire e Vogue.



A inovação e o lado lúdico da vida ocupam uma boa parte da sua obra, de que as fotos que dedicou a René Magritte são um bom exemplo. Muitas vezes, Michals faz acompanhar os seus instantâneos, de pequenos textos reflexivos ou meramente especulativos.


Numa expressa manifestação de um diálogo que procura exceder o mero campo visual.

sábado, 24 de fevereiro de 2018

Geraladas


Às vezes (não tão poucas como isso...), somos envolvidos numa generalização abusiva e abastardada, em companhias pouco recomendáveis que nos diminuem de estatuto... Isso acontece com o vós indiscriminado, com as circulares a dizer nada (de que a Net anda cheia), meadas de algoritmos lorpas e  comuns, e ainda (mais raro, é certo) com o recomentário abrangente (e chapa-zero) de administradores de blogues, apressados, miopes em destrinçar a diferença entre sujeitos individualizados, numa mistura que me lembra os tempos de caserna, rancho e tropa, em que os sargentos não conseguiam ( ou não se preocupavam...) notar as diferenças de cada um. Afinal, terei de concluir que os portugueses não mudaram assim tanto, nestes últimos anos de democracia... Por  comodismo boçal, desatenção, sensibilidade grosseira, ausência de respeito pelos outros e por uma secular falta de sentido crítico, que vai sendo cada vez mais generalizada.

Cat Stevens, antes da conversão...

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Uma vida em cena


Se Mémoires (1985), de Alec Guinness (1914-2000), é reordenado por grandes temáticas, que definem os capítulos (Chère Martita, Vers le Rivage...), o diário My Name Escapes Me (1996), com prefácio de John Le Carré, é menos ambicioso, dando conta, dia a dia, de deslocações e viagens, de jantares amigáveis, de questões de saúde em que, apesar de tudo, o registo nunca perde um tom de optimismo mitigado e de humor sibilino, ou de ironia, que vai fazendo companhia à imparável velhice.
E se o último capítulo de Mémoires, é todo ele inconclusivo, pela tentiva de Alec Guinness tentar descobrir, em vão, a identidade do seu anónimo pai, o diário, de 1996, conclui-se na data em que o seu único filho, Matthew, completa 50 anos. Para trás, ficam esboços de retratos, humaníssimos ou pitorescos, de Gielgud, Edith Sitwell, Ralph Richardson, Peter Glenville, Hemingway e outros, numa galeria de afectos e de cordialidade de que, talvez, só Alec Guinness, apesar de actor, fosse capaz.

Livros infantis?


Não sem razão, V. S. Pritchett (1900-1997), nos seus The Complete Essays e, concretamente, no capítulo que dedica a Jonathan Swift (1667-1745), refere a páginas 115, sobre As Viagens de Gulliver: "...Não foi por acaso que Gulliver se tornou num livro para crianças; somente uma criança conseguiria ser tão destrutiva, tão irresponsável e tão cruel. ..."
E Alice?

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Mera constatação


Num período inferior a 24 horas, o Arpose recebeu duas visitas institucionais: ontem, às 13h42, da Secretaria-Geral do Ministério de Administração Interna e, hoje, às 11h11, da Direcção Geral de Estatísticas da Educação e Ciência. É provável e lógico que tenha havido um passa a palavra...
Ambas as visitas se dirigiram ao poste do Arpose: O bom humor de Luís de Camões, de 8/5/2011. Pese embora o Entrudo já ter terminado há uns dias atrás, louve-se este interesse institucional pelo nosso Épico maior, que mereceu o interesse e atenção de quem se debruça sobre o nosso passado, com desvelado carinho.

Chopin / Lubyantsev

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Transições (3)


De costas, o olhar apercebe-se do que poderia ser o cavername em madeira de um enorme barco, ao inverso. De bruços, é possível imaginar duas escotilhas redondas, ao fundo, de um navio ancorado. Até chegar às pistas líquidas, no entanto, o asséptico mural dos azulejos claros e a tejoleira térrea e torrada, algures, faz-nos hesitar entre um hospital limpíssimo e um forno para cozer pão. Até porque a água está a uma temperatura convidativa, entre os 29 e os 30 graus.
E, como dizia Einstein: A imaginação é um músculo. Ela tem necessidade de exercício.
E nadar, tirando braços e pernas, deixa ainda muita coisa livre... 

domingo, 18 de fevereiro de 2018

Pinacoteca Pessoal 132


A indiferença perante modos e temáticas, em Arte, é sempre desafiada quando estamos perante obras que se nos impõem pela sua grande qualidade. Não sendo eu um apreciador inato de naturezas mortas, há pintores que distingo e destaco como excepcionalmente dotados, nas suas realizações.
É o caso do espanhol Juan Sánchez Cotán, nascido em Orgaz em 1560 e falecido em Toledo a 8 de Setembro de 1627.



A sua obra é maioritariamente composta de naturezas mortas de um extremo realismo perfeccionista que os estudiosos arrumaram, para efeitos classificativos, entre o Maneirismo e o Barroco.
Juan Cotán professou por volta dos 43 anos, embora continuasse a pintar.


sábado, 17 de fevereiro de 2018

Memórias de 39, por Lisboa



Em Janeiro de 1939, a companhia inglesa de teatro do Old Vic iniciou, de barco (paquete Alcantara), uma tournée que a haveria de levar por alguns países da Europa (Portugal incluído), e até ao Egipto, representando, entre outras peças do seu repertório, o Hamlet, de William Shakespeare.
Alec Guinness, nas suas Mémoires (pgs. 35/6), dá conta das suas impressões, bem como do ambiente que se vivia, em Lisboa, por esses dias. Vou, por isso, traduzir e transcrever um pequeno excerto mais significativo:

Chegámos a Lisboa a 23 pela manhã, e vimos com horror, na descarga (do navio), a carga dos nossos cenários mergulhar majestosamente nas águas do Tejo. Ela desapareceu, depois emergiu e, por um triz, que os adereços não se inutilizaram de todo. Provavelmente, teria sido um erro involuntário do manobrador da grua do cais, mas convém não esquecer que, à época, os ingleses estavam longe de serem populares em Portugal. A guerra civil de Espanha estava para acabar, e a tomada de Barcelona pelas tropas franquistas estava iminente. Quando aconteceu, três dias mais tarde, houve uma explosão de alegria em Lisboa. E isso pareceu-nos deprimente. E ainda mais deprimente, para nós, ao vermos, lado a lado, pelas ruas, luxuosas viaturas britânicas arvorando a União Jack, com carros embandeirados com a cruz gamada, com o sol nascente japonês, bem como as cores nacionalistas espanholas e portuguesas. A maior parte de nós, penso, sentia-se diminuída, estrangeira, isolada, ameaçada - muito temerosos pelos nossos compatriotas em Lisboa. Setembro de 1939 não estava assim tão longe, afinal de contas.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

As palavras do dia (33)


A crónica de António Guerreiro, publicada hoje na ípsilon (jornal Público), deve ser lida na íntegra.
É um brilhante exercício de desmistificação do parolismo nacional, de desmontagem dos beatérios bem-pensantes do politicamente correcto, mas também uma crónica cheia de humor, e escrita com inteligência e rigor. 
Imperdível, em suma.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Comic Relief (138)


O mundo às avessas...

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Apontamento 110: Em louvor da Arquitectura




Sempre gostei da descida para a Trafaria, preparando a vista, na estrada íngreme entre o campo e o mar, para esta imagem, à beira Tejo, olhando para Lisboa.

Mas, também, sempre achei uma terra mal cuidada quanto ao edificado. São erros passados de semear, sem estratégia, nem saber de arquitectura, torres desmesurados no meio de casinhas, pobrezinhas, de pescadores.

Junto ao rio havia uma farmácia, antiga, cuja traça sempre me encantou e que, há algum tempo, se foi degradando, como se vê pela imagem.


Recentemente, numa visita à Trafaria, porque também tem uns restaurantes recomendáveis, vi que a “minha” farmácia ganhou uma nova cara. Laus Deo. Em vez de a deitarem abaixo, está a ser recuperada como outras casinhas.


Espero que a Câmara de Almada e a sua Presidente tenham um olhar atento e aproveitem a oportunidade para fazer renascer a Trafaria, recuperando o edificado paupérrimo com saber, qualidade e gosto.


Post de HMJ

Para um começo de novela...


Era uma vez um gato preto e branco, na manhã fria, tentando aquecer-se ao Sol de Fevereiro, na caixa aberta de uma camioneta outrabandista, quando...

domingo, 11 de fevereiro de 2018

Revivalismo Ligeiro CCLXXVII

Representar


Com o tempo fui cada vez mais apreciando desempenhos (em teatro ou cinema) neutros e/ou naturais, sem excessos nem esgares, sem gesticulação desarticulada, num registo equilibrado que se aproxima muito da escola de representação britânica: Guinness, Jacobi, frequentemente Finney, mas nem sempre...
Por razões muito secundárias pesquisei, recentemente, a biografia do actor norte-americano, já centenário, Kirk Douglas (2016). A Wikipédia derrama-se-lhe em elogios, quanto a mim infundados: "(Kirk) Douglas é amplamente considerado um dos melhores atores da história do cinema. ..."
Se ainda hoje suporto o cabotinismo (cínico) de Jack Nicholson, porque me compensa de outras formas, e já me entusiasmei, na adolescência, pelos desempenhos de Ulisses, Spartacus e de Van Gogh, personificados por Kirk Douglas, hoje, dificilmente os toleraria, pelo seu registo primário.
Mas até sou capaz de perceber a simpatia e caridade palavrosa da Wikipédia, que ainda vai na juventude (com os seus 17 aninhos), e ainda não desenvolveu, convenientemente, o seu sentido crítico. E louvo o seu respeito e veneração pela velhice consagrada...

sábado, 10 de fevereiro de 2018

Tempo frio


Tempos de recolhimento, estes em que o frio intenso empurra para o ameno morno das casas, a quem não tem de sair, já não trabalha ou chegou à idade em que dispensa os cortejos carnavalescos.
Sob a sombra tutelar de Alec Guinness (1914-2000) me correu o dia de hoje. Um bom amigo tinha-me emprestado as Mémoires do actor britânico, assim como O Peregrino Secreto, de John Le Carré, que este dedica: "Para Alec Guiness com afecto e gratidão".
E como não há duas sem três, acabei por ver, no Youtube, um filme brando de Ronald Neame (1911-2010), intitulado The Card (1952), com um bom desempenho de Alec Guiness e uma inesperada e jovem Petula Clark. Tempo que dei por muito bem empregado... Embora o frio continue. Lá por fora.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Máxima cristiana


Clemente por clemente, mais valia o Cerejeira.
(Que, ao menos, era de Lousado, o coitado...)

Os mesmos, ou "os suspeitos do costume"


É vê-los. Os nabais, os barreiros, os júdices (apropriadamente, aliás...), os proenças de carvalho...
Quando eu era pequenino, em Guimarães, havia um advogado, de apelido Abreu, que só aceitava causas justas, e de quem os réus duvidosos nunca se socorriam. Nunca enriqueceu, mas os seus três filhos, ainda hoje, se podem honrar do apelido.
Nos últimos anos, tirando os causídicos do ex-primeiro ministro, que eram ilustres desconhecidos, para o comum da terra, quando há um processo mediático, na tv, lá aparecem os barreiros, os proenças (agora menos...), os nabais, os fernandes, os júdices... Numa aristocracia de competência que, sempre, me pareceu suspeita, equívoca e monótona.
Irra!

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Leilão de livros e manuscritos


A Livraria Olisipo leva a efeito, nos próximos dias 21 e 22 de Fevereiro, mais um leilão com um acervo importante de obras raras, bem como um conjunto de manuscritos, composto por correspondência endereçada ao crítico Álvaro Salema, por parte de vários escritores portugueses.
De destacar algumas edições primeiras de Francisco Manuel de Melo e de Almeida Garrett. O leilão terá lugar no Palácio da Independência, às Portas de Santo Antão (Lisboa).

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Apiculturas


A notícia vinha ontem no jornal. Por falta de flores, nas suas terras, os apicultores espanhóis estão a trazer as suas colmeias, para as zonas raianas do Norte e do Centro de Portugal, para que as abelhas pastem à vontade do pólen lusitano que, apesar dos incêndios, ainda vai florescendo.
Aqui, pelas varandas outrabandistas, as abelhas são raras, embora apareçam muitas vespas que, parece, gostam de libar as folhas dos limoeiros.
Agora, o que eu não sabia é que, uma abelha que se preze, visita cerca de 40.000 flores, por dia. É obra!...

Ora, saia uma Brigada Victor Jara, que o Youtube, como bom norte-americano, nunca recomenda...

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Citações CCCXXXV


Os ingleses têm um espírito socialista e um coração conservador.

Albert Finney (1936), ao Evening Standard (12/11/1970).

sábado, 3 de fevereiro de 2018

Um soneto brejeiro de Correia Garção, pré-carnavalesco


O soneto de Correia Garção (1724-1772) vem transcrito por António Cirurgião, na publicação, de 1974, cuja imagem de capa surge acima. O soneto reza assim:

Hoje ao redor de mim Amor voava
Mil círculos fazendo pelos ares;
Das brancas azas, luzidos talares
O sonoro ruido me assustava.
     Aos hombros retinia a dura aljava,
     Cheia de settas d'ouro singulares;
     E co'as mãos poderosas, milhares
     Laranjas e canudos espalhava.
Espantado fiquei! o traidor rindo,
Da engelhada minhoca desembesta
Um diluvio de perolas sizudo:
     E as rubicundas nadegas abrindo,
     Uma bufa largou, dizendo: he esta
     A galhofa melhor do amante entrudo.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Democracia e isenção


Louve-se o equilíbrio da Legionella, que tanto se amerceia das instituições do SNS, como do particular CUF-Descobertas. O democrático vírus é insensível à lisonja e à corrupção nacional. Honra lhe seja!

Clássico por Clássico

Será que alguém ainda não conhecia?
Duvido...

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Ora, foi no Teatro do Salitre...


A vitrine estava repleta de entremezes e folhetos de cordel, aí uns vinte, pelo menos, e todos diferentes. E B. T. foi-me dizendo que, há muito, não comprava mercadoria deste quilate. Eu vi-os a pente fino: alguns já os tinha, como O Gallego Lorpa e os Tolineiros, de que já aqui falei, em tempos (24/6/2010). Estes folhetos, sem grandes pretensões culturais, representados, destinavam-se a divertir a populaça.



Grande parte destas peças dialogadas, de média ou fraca qualidade, tinham sido exibidas no Teatro do Salitre que, inaugurado em 1782, e mudando de nome para Teatro de Variedades, em 1852, veio a encerrar no ano de 1879. Aqui se estreou (onde mereceo accceitação), no ano de 1822 (?), esta pequena obra (16 páginas) de José Daniel Rodrigues da Costa (1757-1832), intitulada A Casa de Pasto.



O enredo da pequena peça é débil e de humor muito linear, à superfície. Mas tem aspectos sociológicos interessantes. E dá para saber que, naquela altura, se apreciavam os miolos com ovos, cebolas recheadas, frango ensopado, língua de vaca, favas com presunto e pombos de empanadas...
Desencadernado e em sofrível condição (pequenos rasgões, não afectando o texto), o folheto ficou-me por 18 euros.



Adagiário CCLXXV


Gabem-se couves, que há nabos no caldo.