quarta-feira, 5 de outubro de 2016

A memória curta e o parolismo nacional


Deslumbramo-nos com monumentos e paisagens estrangeiros, e esquecemo-nos de ver e louvar os nossos; pomo-nos de cócoras perante acontecimentos que ocorrem lá fora, mas desvalorizamos os que por cá vão acontecendo; endeusamos os artistas de outros países mas, ingrata e parolamente, num terceiromundismo novo-rico, ignoramos os portugueses.
Mário Braga (1921-2016), nascido em Coimbra e falecido em Lisboa, no passado dia 1 de Outubro, teve alguma projecção como escritor, sobretudo de contos, nos anos 50/70, e esteve ligado ao grupo da revista Vértice. E era talvez o último sobrevivente dos neo-realistas e da geração do Novo Cancioneiro (Coimbra).
Pois, no passado domingo, 2/10/16, o meu jornal dedicava 4 ou 5 páginas a 2 escritores norte-americanos (Philip Roth e Saul Bellow). Quanto a Mário Braga e ao seu passamento, não fora o obituário - pago pela família - nada constaria.

8 comentários:

  1. Não sabia que tinha falecido. Conheci-o e era bem simpático. E li alguns contos dele, quando andava no liceu e era uma espécie de esponja de literatura. E lembro-me disto por causa de uma situação que um dia lhe contarei.
    Mas alguém conhece o Mário Braga?! Já houve casos mais gritantes, recentemente. Infelizmente, não me lembro quais.
    Quanto ao seu jornal dedicar umas páginas a Philip Roth e Saul Bellow, ainda que o fez, pois são dois grandes escritores.
    Bom dia!

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    1. "Mas alguém conhece o Mário Braga?!" diz muito bem, nesta ignorância pantanosa portuguesa, em que até a Escola desajuda...
      Conheço bem Bellow, de leitura, Roth, menos. Mário Braga não se lhes compara, evidentemente.
      Mas cada um deve amanhar a sua terra. Nós, o nosso quintalito lusitano (Mário Braga); quem quiser e for apátrida que cuide do enorme latifúndio judaico. E marcano..:-)

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  2. Ora bem, não seja injusto nem generalize. Eu nem sabia quem é (era) Mário Braga, mas sabia do seu passamento. Deu na TVI, veio no Correio da Manhã, apareceu noutros jornais. O Público não disse nada? Mas o Público acha que Cultura são umas consoantes mudas e que Educação é uma boa polémica entre intelectuais lisboetas...

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    1. Infelizmente, notícias, notícias - como dizia e bem JPP - é no CM e CMTV.
      Não gosto de generalizar, mas isto é um forte sintoma de um internacionalismo que, tal como o colectivista de esquerda, pretende submergir a opinião geral. E a opinião geral é muito frágil, bacoca, leviana...

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  3. Lamentavelmente nem só Mário Braga está ignorado.
    E em todas as artes se vai notando os esquecimentos.
    De Mário Braga tenho As Ideias e a Vida-Temas. Onde?
    como de costume não sei. E concordo com a parolice
    do novo-rico nacional...
    Boa noite.

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    1. A pressa e o frenesi de novas descobertas leva à efemeridade de quase tudo. Os valores quase nem chegam a consolidar-se, porque não há tempo de reflexão, normalmente. Dantes havia, tudo se passava mais devagar.
      Boa noite.

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  4. O seu Arpose lê-se com prazer. Permita-me dizer que também me chamou a atenção esse anúncio. Sabia do nome do escritor da roda de amigos de Afonso Duarte em Coimbra, mas os livros só os encontrei nos alfarrabistas das feiras de velharias. E por leituras travessas desses mesmos alfarrábios apareceu-me uma pequena, desconhecida mas violenta controvérsia na qual Braga é o centro do furacão e os restantes são João Ilharco e Sílvio Lima. Tudo a propósito daquele 'best-seller' de Ilharco.
    E é tudo, meus cumprimentos.

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    1. Muito obrigado pelas suas palavras.
      Vejo estas omissões com alguma melancolia, sobretudo lembrando-me da importância que algumas personalidades tiveram no tempo da minha juventude. Quando hoje são ignoradas ou estão esquecidas.
      Não tinha conhecimento dessa polémica que refere.
      As melhores saudações.

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