Dele, em Os Afluentes do Silêncio, disse Eugénio de Andrade, que o conheceu:
"...As suas palavras eram quase sempre a reacção de um intelectual honesto e lúcido, com frequência azedo, à mediocridade de um meio e de uma cultura em que fatalmente vivia, e de que se sentia desapegado. Despido de sentimentalidade. Era como se não tivesse tido mãe, nem infância, nem uma mulher, nem um amigo. Como se nunca tivesse reparado na cor matinal dos cardos, nem no perfume melado das frésias. Como se nunca tivesse adormecido nas dunas ou não tivesse saudades duma poça de água ludra onde se chapinhou em pequeno. Mas em tudo ele devia ter reparado, pois doutra maneira não seria possível todo o lirismo dos seus desenhos. Não falaria disso por pudor, como quem se envergonha de uma intimidade fácil, apesar de luminosa, com as pequenas e efémeras fontes da vida. ..."
E eu acrescentaria que, quem encheu de beleza tantos livros espelhando alegria e amor à vida, não merecia, de todo, estar tão esquecido.
Um belo texto sobre um ilustrador que muito aprecio, sempre reconhecível.
ResponderEliminarO texto é realmente muito bonito, e a ilustração de Pavia, uma maravilha.
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