segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Da leitura 35


A expressão dos sentimentos ( e emoções ), em conversas correntes e escritos do dia a dia, assume por vezes a transgressão da ignorância, a boçal incapacidade e impropriedade verbal, bem como, muitas vezes, o exagero próprio de quem não tem, nem terá nunca, a noção do grau e da medida.
De A Montanha Mágica (1924), de Thomas Mann (1875-1955), é conhecida  a clássica , brilhante e intensa, mas simples declaração de amor do romance, que diz: "Tu és o tu da minha vida." Inultrapassável por lapidar, ainda hoje, no meu entender.
Quanto à amizade, eu creio que foi Michel de Montaigne (1533-1592) que, em relação ao seu afecto por Étienne de La Boétie (1530-1563), melhor soube expressar, em os Essais (1595), o sentido e valor do seu sentimento (Parce que c'était lui, parce que c'était moi), e de forma linear. Mais uma vez, inultrapassável.
Para melhor contextualizar a expressão, passo a traduzir o parágrafo em que ela se integra:
"...aquilo a que chamamos habitualmente amigos e amizades, não são mais do que conhecimentos e familiaridades, através das quais as nossas almas se entretém. Em amizade, que é aquilo de que falo, elas misturam-se e confundem-se uma com a outra, numa mistura tão universal, que se esbatem as costuras por onde elas mesmas se juntam. Se insistirem em me perguntar porque gosto dele, creio que poderei responder: Porque era ele, porque era eu" (I, 27, 290-291).

5 comentários:

  1. Os Ensaios (que não li na totalidade) de Montaigne também são inultrapassavéis, como as duas citações que reproduz, a de Mann (deq ue não me lembrava) e a do próprio Montaigne.
    E o livro de Antoine Compagnon é bom? Já o vi referenciado numa revista e fiquei curiosa. Os Essais estão na minha lista de leituras para o ano. Ou melhor: para iniciar no ano que vem e ir lendo...
    Bom dia! Boa semana!

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    1. O livrinho (170 páginas) de Compagnon lê-se muito bem. Colige breves intervenções, na France Inter, do autor. E, em muitos casos, esclarece alguns temas de Montaigne, nos "Essais" que, como refere, é para se ir lendo e reflectindo.
      Retribuo, com estima.

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    2. Em tempo:
      estou a acabar o Compagnon - posso emprestar-lho...

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