quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Em tempo


Não sendo eu grande apreciador de arte sacra ou pintura com motivos religiosos e hagiográficos, abro,  no entanto, algumas excepções. E não sou entusiasta destas temáticas, pela pouco originalidade que encerram e pelas encomendas pouco inspiradas de que foram objecto. Tal como aqueles versinhos provincianos comemorativos que se fazem e fizeram muito, sobretudo nos séculos XVII e XVIII. Ora, dessas pinturas de motivos religiosos, normalmente medíocres, estão as nossas igrejas cheias. Para isso, prefiro os ex-votos que, na sua rudeza ingénua, têm, pelo menos, uma bruta autencidade original.
Não é o caso desta Nossa Senhora da Madressilva, que se guarda no Museu de Aveiro. Que me fascinou, nesse meio caminho entre o gótico e a Renascença, vinda de Itália (Oficina de Siena) e pintada que foi, a tábua, por volta de 1500. Terá sido comprada e trazida por D. Catarina da Silva (daí a invocação: Madressilva), quando por lá andou a acompanhar a futura imperatriz D. Leonor para casar com Frederico III. Mais tarde, D. Catarina veio a professar no Convento de Jesus, e a belíssima pintura veio com o dote da fidalga. Das obras que enriquecem o Museu de Sta. Joana, é uma das que eu não podia esquecer. Pela sua quase perfeição.
Aqui fica, em preito de homenagem e admiração estética.

11 comentários:

  1. Acabei de perceber que tenho, um dia destes, de visitar novamente este museu. Visitei-o em miúda, numas férias em Leça da Palmeira, um dos passeios que os pais (estando o pai ligado às filatelias e aos Galitos, já conhecia) e tios proporcionaram e apenas me lembro de um Cristo que (supostamente) nos seguia com os olhos.
    Esta Nossa Senhora vale a pena a visita.
    Bom dia

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    1. Sobre filatelia, também é comigo..:-)
      Há realmente várias esculturas de Cristo, algumas em marfim, bem bonitas.
      A pintura, do séc. XV (pouca) e XVI, é interessante, depois, na minha opinião, banal. Mas os retratos de Sta. Joana e desta Senhora da Madressilva valem a visita. Além da azulejaria.
      Bom dia!

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  2. A pintura é lindíssima. Tenho de ir ao Museu de Aveiro um dia destes. Boa tarde!

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    1. Pois faz muito bem porque, embora pequeno, o quadro é de "uma lindeza tamanha" (como dizia José Régio, de outra coisa...).
      Boa tarde!

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  3. De uma grande delicadeza, a pintura.
    Gostei muito (e também não sou grande apreciadora de pintura religiosa).
    Boa noite!

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    1. É verdade, Sandra, suavíssima.
      Por cá não me lembro de muitas pinturas assim.
      Uma boa noite, também!

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  4. No geral, também não sou nada apreciadora de pintura com motivos religiosos. Mas abro exceções: Giotto, Fra Angelico, Caravaggio... :)
    Bom dia!

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    1. Não sou grande fã de Caravaggio, um "must" do Prosimetron... Para lá do seu jogo de luz e sombra, as suas figuras sempre me pareceram excessivamente formais e com expressões estereotipadas. Mas também apoio Giotto e Fra Angelico.
      Na pintura portuguesa, destaco o "Ecce Homo" do MNAA.
      Bom dia!

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  5. Curioso, ainda há dias lia o que Calvino tinha a dizer sobre arte sacra no seu "Instituio". Há um passo em que ele questiona a qualidade estética das imagens ou das pinturas. No entanto, as motivações do seu desdém são bem outras, com as quais, desde logo, não concordo inteiramente.

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    1. Não conheço o texto de Calvino. E, se temos bons poetas, sempre tivemos poucos grandes pintores. Posso compreender a necessidade da ilustração iconógráfica nas nossas igrejas, para reforço da crença. Mas isso não ajuda a desculpar a fraca qualidade dos quadros que por aí se vêem. Com muito raras excepções.

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    2. Concordo com tudo o que diz. O argumento de Calvino, no entanto, é que tem pouco a ver com a qualidade dos pintores. Por um lado, ele está convencido de que o coração dos homens é uma fábrica de ídolos e que, portanto, pinturas ou imagens invariavelmente são tornadas em objectos de culto. Por outro, acha que a arte tem pouco valor didáctico e que a matéria da arte é indigna da majestade divina. Creio que a alusão que ele faz à má qualidade da arte tem quase peso nenhum no seu argumento. Mas neste assunto, concordo muito mais consigo do que com Calvino.

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