segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Osmose 89


Todo o grande poema tem uma segunda leitura: à tona, se tivermos pressa, outra, de águas profundas.
Há que nos abandonarmos ao mergulho da sensação, quando o poema tem densidade, às associações mais íntimas, descomandadas. Indo para além da leitura, num ascenso, também, que exclui o racional.
René Char aconselhava aos poetas autênticos que suprimissem o primeiro verso do poema original. E o último. Julgo que de forma a perder-se o fio da meada de uma rotina discursiva e banal.
Mas tudo depende daquele início de graça que nos é dado. Que sendo obscuro, pode ser divino na sua humanidade irrepetível, e prontamente esquecido. Como nos sonhos.

4 comentários:

  1. Esta sua análise também se estende aos livros, de certeza que sim! Não sendo eu dada a poesias (que reconheço como falha minha), gosto sempre de dar aos livros uma segunda leitura, mais tarde, depois da pressa de conseguir ler uma história que me chamou a atenção!
    Bom dia
    Paula

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    1. A alguns raros livros em prosa, sim. Estou a lembrar-me de "A Montanha Mágica", de Thomas Mann, por exemplo. Em poesia, poderia referir vários. Mas também há poetas em que não "entro", nem à segunda leitura: Celan, para o caso.
      Boa tarde!

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  2. Ora essa, ora essa. Raio de conselho. Bem me lembro de quando esse miserável do Edgar Poe cortou o final d'A Narrativa de Arthur Gordon Pym de Nantucket... Fiquei furibundo - os escritores querem agora que façamos o trabalho deles?

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    1. Que se pode fazer quando um grande poeta dá um destes conselhos?!...
      Só se for calar, humildemente. E lembrar aquele título do Eugénio: "Obscuro Domínio", como proposta e dogma.

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