domingo, 11 de dezembro de 2016

Sartre, as idades e a velhice


(...) Aos trinta anos havia um futuro, como havia aos cinquenta. Talvez aos cinquenta esse futuro estivesse mais limitado do que aos trinta; não era eu que o podia ajuizar. Mas a partir dos sessenta e cinco, sessenta e seis anos, já não há futuro. Naturalmente, existe o futuro imediato, os cinco anos próximos; mas mais ou menos eu já disse tudo quanto tinha para dizer; em linhas gerais eu sabia que já não tinha muito para escrever e que dez anos depois tudo estaria acabado. Recordava-me da velhice do meu avô, uma velhice triste; quando tinha oitenta e cinco anos, estava acabado, mas sobrevivia, não sabíamos porquê. (...)

Jean-Paul Sartre (1905-1980), in Cérémonie des Adieux suivi..., de Simone de Beauvoir.

6 comentários:

  1. Li este livro na trad. portuguesa. Fica-se amachucado.
    Bom domingo!

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  2. não sei porque concordo com a senhora D. Simone, mas concordo. Esta parte da vida é mesmo um despedir-se de muita coisa relacionada com o corpo e a sua actividade múltipla e até com alguns pormenores do espírito (com sorte, só pormenores). Tanta coisa que antes nos era fácil e nem pensávamos se fazíamos; e que ora custam ou se nos tornam mesmo impossíveis de executar. E no entanto há velhices conseguidas, estimadas e estimáveis. Como em todas as coisas, a sorte é só para alguns. E temos de nos aguentar com o que nos coube tentando rentabilizá-lo se possível.
    Parece-me que seja uma obra realista.

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    1. É, na verdade, um livro de memórias muito desapiedado e realista, além de muito bem escrito.
      A Natureza é, frequentemente, madrasta, mais raramente benévola - no fundo, uma espécie de roleta russa...
      Haja sorte, por isso.

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  3. Parece-me que li todas as memórias de Beauvoir. Para, além de Sartre, conhecer melhor e situar outros intelectuais da época.
    Já agora, pergunto-lhe se leu algum romance dela e de qual mais gostou. Obrigado.

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    1. Se também li todos os livros de memórias de S. de B. (gostei menos de "La Vieillesse"), bem como os de ensaios, nos de ficção estou completamente em branco, infelizmente.

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