quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Divagações 115


Para que nos serve o saber, a cultura, o conhecimento? E tê-los, em parte, pode fazer-nos mais felizes? Tenho dificuldade em responder pela positiva. Muito embora, e na boa tradição judaica, que frequentes vezes George Steiner gosta de lembrar: o conhecimento é aquilo que ninguém nos pode tirar.
Por outro lado, o saber técnico ou científico tem, também, as suas utilidades práticas. E, quanto ao lado humanístico do conhecimento, ele poderá, entre outras coisas, permitir contar histórias. Que é uma coisa a que quase nenhum ser humano se negará a ouvir. Desde os tempos longínquos em que os homens se sentavam, à noite, em volta do fogo para se aquecerem, e conviver.
Nada disto porém se cruza, obrigatoriamente, com essa coisa inefável a que, à falta de melhor,  chamamos felicidade...

9 comentários:

  1. Por acaso, acho que tudo isto que refere nos pode tornar felizes..
    Penso que a maioria dos cientistas e investigadores (nas suas múltiplas áreas) são pessoas felizes nos seus trabalhos. O que dá uma grande ajuda à felicidade pessoal de cada um.
    O convívio é bom, é ótimo.
    Bom dia!.

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    1. Mais do que o conhecimento o que talvez eu pergunte a mim mesmo neste texto é o que é a felicidade.
      Pois a criação, por exemplo, tem no seu "durante" uma plenitude que no seu término desaparece, tal como o desejo ou mesmo os passos que levam à descoberta (que pode ser a científica).
      Claro que o convívio é bom, desde que tenha alguma densidade, o que é raro. Como a coincidência humana de gosto, por exemplo na fruição de uma leitura ou de uma obra de arte.
      Mas será isto a felicidade?

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    2. Não sei o que é felicidade (como conceito filosófico), mas sei quando me sinto feliz ou não. E normalmente sou feliz com coisas triviais da vida. Sinto-me feliz no meu trabalho, o que dá uma grande ajuda. A ler certos livros, a ouvir música. Os barrocos na música dão uma grande ajuda.
      Bom dia.

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    3. Vou no mesmo sentido. Reconheço-a (a felicidade) quando sinto um certo equilíbrio geral (físico e psiquíco) que parece não querer nem desejar mais nada...

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  2. Uma frustração. Duas vezes escrevi sobre este tema e desapareceu
    num segundo. Desisto. Na hipótese de este seguir, apenas gostava
    de recomendar um filme português que vi esta tarde e do qual gostei
    bastante. "Cartas da Guerra". Para mim cartas de amor, lindíssimas.
    Boa noite.

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    1. Lamento os "apagamentos", mas esta coisa da net ainda nos provoca muitos sobressaltos e arrelias..:-((
      Já ouvi falar e li algumas coisas sobre o filme que refere e que julgo ser baseado em textos (cartas reais) de A. Lobo Antunes. Estarei atento.
      Uma boa noite.

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  3. Em minha opinião, a cultura num sentido lato, abrange as outras duas, conhecimento e saber, não penso que traga mais felicidade, Nietzshe percebeu isso, na sua extensa obra fala-nos da importância do esquecimento ou da anti memória. A afirmação de Steiner não é descabida, embora nem todos os detentores de conhecimento são contadores de histórias, por outro lado pelo menos para mim esse tempo da fogueira não é assim tão longínquo, o que posso afirmar pela minha experiência pessoal do que me foi dado a observar na minha infância juventude, é que as pessoas apesar de circunstancias materiais muito difíceis, não eram nem mais nem menos felizes do que hoje.
    Saudações
    P.S. Epicuro sobre a felicidade

    (…) Nem a posse das riquezas nem a abundância das coisas nem a obtenção de cargos ou o poder produzem a felicidade e a bem-aventurança; produzem-na a ausência de dores, a moderação nos afectos e a disposição de espírito que se mantenha nos limites impostos pela natureza (…).

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    1. No geral, estamos de acordo, e Nietzsche acaba por ser sempre uma referência incontornável e os seus títulos, sugestivos (estava a lembrar-me de "Die fröhliche Wissenschaft = A gaia Ciência").
      Também há, pela minha meninice, dessas noites memoráveis e encantatórias em volta do fogo...
      Bem a propósito veio o seu Epicuro, no aspecto de contenção do desejo das coisas, supérfluas, que hoje o aceso consumismo vai minando em quase tudo e todos.
      Votos de um bom dia!

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    2. Foi uma coincidência a utilização do pensamento de Epicuro, este que era tão caro a Nietzsche, uma curiosidade, li, ou toda, ou quase toda a obra de Nietzsche, mas nunca tinha observado o titulo de Gaia Ciência na sua língua original, uma questão que se me colocou na minha juventude era se devia pronunciar o nome de Nietzsche em português ou em Alemão ( Nitcha) , penso que um dia ouvi na televisão Mário Soares a pronunciar aportuguesadamente ( Nietzche) e resolvi referir-me a ele também dessa maneira, que é também a que gosto mais.

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