quinta-feira, 7 de junho de 2012

Uma visita fruste: o MNAC


A manhã estava fosca, embora fresca, as ruas quase vazias, e pouco passava das 10, quando entrei no Museu do Chiado - devo ter sido o primeiro visitante. Patibular a entrada, com uma amostra esquisita de pequenos quadros por uma parede alta, tão alta que os de cima mal se podiam ver e apreciar. É certo que consegui distinguir um minúsculo Souza-Cardozo, Tagarro, um Botelho lisboeta, um Eduardo Viana, nas alturas, e não mais...Alguma coisa mexia, ao fundo, na Loja do Museu, mas guardei-me para o final, e lá fui subindo as escadas. Algumas cabeças e bustos de Hein Semke, Macedo e Barata-Feyo, interessantes.
Mas foi um início decepcionante pelas salas cinzentas. Muita obra de terceira ordem (anos 50/ 2000) e de discutível qualidade artística. Até um quadro de Paula Rego, pouco significativo, um António Sena, banal. Dois ou três vídeos muito pobres, algumas fotografias corriqueiras, se excluir um Tabarra, marcante. Nikias, Pomar, Chorão, José de Guimarães, Vieira da Silva: não vi nenhum. Gostei, no entanto, de um Ângelo de Sousa, da primeira fase, a preto e branco. Nenhum Resende. Ficaram-me na memória dois auto-retratos (como sempre, tema obsessivo e megalómano) de Molder e uma instalação de Ana Pérez-Quiroga, em travessas de porcelana, com o dístico reiterado: "Odeio ser gorda".
Quando já não sabia para onde seguir, perguntei a uma Vigilante: "- Onde é que posso ver Columbano?" Respondeu-me, melancólica: "Agora, já encerrou; só fazemos exposições temporárias..." Quer dizer, eu já tinha visto tudo o que havia para ver, que era muito pouco e a roçar a indigência. O resto do acervo estava guardado. Ou fechado. Isto, no mês das festas de Lisboa e no princípio da época turística. E a Loja do Museu não tinha atendimento - estava, simplesmente, encerrada. Dirigi-me para a saída, descorçoado e pessimista.
Na porta, cruzei-me com um casal francês e apeteceu-me dizer-lhes: "- Não entrem no MNAC, vão antes ao MNAA, nas Janelas Verdes!" Mas, por vergonha patriótica, calei-me e fui tomar um café à Bénard, para desanuviar.
Será que o nosso comissário da Cultura assiste a isto, gordo e sereno? Ou não terá conhecimento, porventura, desta indigência artística a meio gás?

8 comentários:

  1. Confesso que não vi a actual exposição, mas acho que preferia a versão em que havia trabalhos de várias épocas - escolhendo os melhores. A falta de meios (dinheiro) deve andar a prejudicar muito os museus, o que é uma pena.

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  2. Não é de agora. Desde que reabriu que, quanto a mim, só se deve lá ir ver algumas (poucas) temporárias. E mais não digo para não me irritar. (Hoje soube que o stress faz subir o colesterol!)

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  3. No MNAA está uma expo sobre Machado de Castro que ainda não vi, mas parece que é boa.

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  4. Estou convicto, Margarida, que, mesmo modestamente, se podia fazer melhor. Já tenho visto museus pequenos, não muito ricos de acervo, com grande coerência estética e de qualidade. Esta visita foi, para mim, uma péssima experiência...

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  5. Felizmente, MR, acho que o colesterol não me "assiste", mas isto que vi hoje, mais as notícias deprimentes que lemos ou nos "emailam", se não matam, moem muito. Vai sendo, cada vez mais difícil, lutar contra esta "apagada e vil tristeza" (Camões) que nos vai cercando, quase, por todos os lados.

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  6. Obrigado pela dica do MNAA. Não esqueço e vou tentar ir...

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  7. Em que lugar Camões se refere à "apagada e vil tristeza"? Cada vez mais acho que é um mal português que se exprime em várias características do povo português e até na arte.

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  8. O verso de Camões, Margarida, consta da estrofe 145 do Canto X d'"Os Lusíadas" (pg. 145 da ed. Clássicos Sá da Costa, vol. V). Vou transcrever o final da estrofe, para melhor situar o pensamento:
    "...O favor com que mais se acende o engenho,
    Não no dá a Pátria, não, que está metida
    No gosto da cobiça e na rudeza
    Duma austera, apagada e vil tristeza."

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