domingo, 17 de junho de 2012

Divagações 26


Quando a voz parece inclinar-se, definitivamente, para o épico, que poderia ser sinal de júbilo, eis que uma súbita mudança de tom, nas palavras, lhes acrescenta uma suspeita trágica, ou mesmo um ritmo de elegia. Nunca se adivinham estas inflexões subtis do pensamento onde a voz se quebra e os vocábulos mais simples se podem tornar trémulos e frágeis.
Pode haver, no rosto, uma leve crispação, ou um gesto suspeito que o anuncie mas, quase sempre, imperceptível, e o resto do corpo é opaco, inexpressivo. Pode acontecer que, no crescendo das frases, a transformação do ritmo - mais pausado, mais lento, como se fora reflectido, palavra a palavra - seja um seguro sinal. Nestes casos, porém, não se deve perguntar: " - Que tens?"
A mão suave tocando no braço, sem pressão nenhuma, pode ser, afinal, um gesto de companhia. Um entendimento cúmplice, um suficiente movimento de ternura.

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