segunda-feira, 11 de junho de 2012

Em louvor de "Infância", de Graciliano Ramos


O último capítulo de "Infância" (1945), de Graciliano Ramos (1892-1953), intitula-se, simbolicamente, Laura e narra o princípio da adolescência de uma criança de 11 anos, com a descoberta do seu primeiro amor. Como todo o livro, está admiravelmente bem escrito, e onde não falta, também, alguma ironia. É, quanto a mim, uma obra-prima da língua portuguesa. Antes que passe o volume para mãos amigas, numa partilha da alegria de o ter lido, aqui deixo mais um pequeníssimo excerto ( da página 273) desse último capítulo:
"...Mal percebi o rostinho moreno, as tranças negras, os olhos redondos e luminosos. O meu ideal de beleza estava nas donzelas finas, desbotadas, louras, que deslizavam à beira de lagos de folhetim, batidos pelos raios de luar, cruzados por cisnes vagarosos. Laura não possuía o azul e o ouro convencionais, mas dividia períodos, classificava orações com firmeza, trabalho em que as meninas vulgares em geral se espichavam. Imaginei-a compondo histórias curtas, a folhear o dicionário, entregue a ocupações semelhantes às minhas - e aproximei-a. Se ela estivesse próxima, não me seria possível concluir a veneração que se ia maquinando. Situei-a além dos lagos azuis, considerei-a mais perfeita que as moças do folhetim. ..."

2 comentários:

  1. Teria a ver com a Laura de Petrarca? :)
    O nome Laura está na moda. Parece-me uma coisa um pouco bizarra.

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  2. Fiquei com essa convicção, MR. Posso é estar errado...

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