sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Da riqueza e dificuldades da língua portuguesa (3)


A contenção é rara entre os latinos, e uma virtude nobre se acontece. O barroco é grandemente sulista, na sua verborreia decorativa de brilhos e dourados. A concisão dos nossos anexins ou adágios de lapidar sageza contrapõe-se, desabrigada, à multidão, quase toda redundante, de epopeias portuguesas que, depois de Camões, enxameou os nossos séculos XVII, XVIII e XIX. Para culminar e acabar talvez, em 1972, com as QVYBYRYCAS, de A. Q. Grabato Dias (1933-1994), editadas em Moçambique, com competente prefácio de Jorge de Sena (1919-1978).
Esta lusa falabaratice desbragada contribuíu, certamente, para a inexistência de uma filosofia genuinamente portuguesa que orientasse, projectasse e arrumasse os nossos desígnios mais íntimos e os encaminhasse para objectivos maiores e essenciais. Não raro, até os nossos, por caridade chamados, proto-filósofos - de quem, por pudor cristão, não refiro os nomes - frequentemente, pelos seus textos desorganizados, se perdem em obscuros labirintos, por onde o seu pensamento e teorias se fragmentam, estiolam e perdem, em definitivo, por terras sáfaras de nenhures.

4 comentários:

  1. É a primeira vez que olho para tal capa e menos sei do que trata a obra. Estranho não ouvir sequer falar dela quando se estuda a dita filosofia portuguesa que é, em minha opinião, um quase nada de uns e outros. Não teremos muito jeito para o raciocínio filosófico ainda que tenhamos um pendor filosofante. No entanto, há muita gente convicta de que temos hoje bons filósofos, como Eduardo Lourenço e José Gil.E talvez seja verdade e eu esteja mas é muito ultrapassada.
    BFS

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    1. Deve ter lido mal. Nada autoriza, do que escrevi, a associar "As Qvybyrycas" à filosofia, mas sim às epopeias.

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  2. Obrigada pela correcção, é bom aprender correctamente. Não terei dado à leitura o tempo que merece. O que li e entendi mal, segundo APS que há-de saber disso mais que eu já que escreveu o post e eu delas pouco sei além da atribuição parece que suspeitosa - foi que as ditas Qvybyrycas seriam um impedimento ao progresso do pensamento filosófico. E, julguei eu que numa cadeira de filosofia em Portugal, se é que existe, se falaria desse empecilho, como exemplo, vá.
    Mas nada. Erro atrás de erro. E portanto, se me permite a ousadia, quero que as qvybyrycas vão dar uma volta. Isto sem ofensa para o seu supremo bom gosto e erudição, claro.
    Noite santa para si

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