sábado, 28 de julho de 2018

Os neo-puritanismos


A abordagem das novas éticas subliminares do nosso tempo levanta, pela sua complexidade, grandes dificuldades e outros tantos problemas. Para além de ser um tema polémico, quando entramos, objectivamente, pelos casos concretos e pelos detalhes.
Se é certo que os interditos contribuiram, de algum modo, no passado, para o progresso das sociedades  primitivas, e são considerados como tal, pela grande maioria dos etnógrafos, o mesmo não se poderá dizer dos tabus preciosistas que enxameiam e tentam normalizar, através das polícias dos costumes, os procedimentos dos dias de hoje.
Os métodos bárbaros do novo calificado do ISIS radicam, claramente, numa leitura tosca e literal do Alcorão e num puritanismo de raízes medievais, que floresce, sobretudo, por entre os ignorantes boçais e nos adolescentes excessivos e tardios - grande parte dos novos mártires oscila pelas idades entre os 15 e os 30 e poucos anos, como se tem visto.
Nas sociedades ocidentais, se os novos inquisidores e vestais, guardiões do novo Templo do politicamente correcto, chegam por vezes à meia idade, não deixam também de fazer supor um raquitismo mental interior, nimbado da maior ignorância cultural. Catequistas acrisolados de uma nova religião laica, ardem diariamente no seu fanatismo cego.
Aprisionam o que não deviam, criam amplas liberdades para o que não devia ser. As novas educações, a extrema complacência em relação às artes - como se disso dependesse a democraticidade da cultura... -, os pruridos com pinças com que abordam a história, os géneros e a política, só me fazem lembrar, por ironia, o título de um filme de 1973, de Marco Ferreri: Touche pas à la femme blanche! Evito pensar que, perigosamente, podemos estar muito perto de The Crucible (As Bruxas de Salem), de Arthur Miller...

4 comentários:

  1. Não entendo nada disto. É isto o direito à diferença?!
    Não acho que haja uma «extrema complacência em relação às artes» porque se não encaixam no politicamente correto querem logo censurá-las - e não apenas na arte atual. Devem ser as mesmas vozes que se levantaram contra a destruição dos Budas de Bamiyan pelos talibãs.
    Bom dia!

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    1. Eu creio que o novo "Index" não só revela a nova tentação (ou tendência) inquisitorial, como também pretende, pelo menos a nivel dos costumes, formatar tudo à "nova ordem" mundial.
      Continuo a pensar que há excessiva complacência (mas também promiscuidade venal) em relação às artes (literatura, pintura...) que hoje se pratica. Até a própria Royal Academy (Londres), ao celebrar os seus 350 anos, fez uma enorme exposição, de duvidosa qualidade, em que meteu artistas diversos numa salgalhada de "todos ao monte e fé em Deus".
      O que só revela as hesitações do gosto actual. Claro que houve reacções, de alguns críticos mais esclarecidos...
      Um bom Domingo.

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  2. Não soube dessa exposição da Royal Academy.
    O que me preocupa são essas 'tropas' que lutam pelos direitos à diferença à igualdade (e muito bem) mas depois querem censurar tudo (na arte, na literatura, na palavra) o que não entre naquela linha mental.
    É a propagação daquela maluquice da sueca que queria tapar os nus pintados num teto de um palácio; dos que censuraram o livro do Monteiro Lobato nas escolas brasileiras; dos que permitiram a reescrita (ou apagamento) de certas partes de livros da Enid Blyton - parece que esta decisão foi anulada; etc., etc. É também a conversa dos «Portuguesas e Portugueses», «Cidadãs e Cidadãos» - não suporto!
    Boa semana!

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    1. A mostra, na Royal Academy of Arts, inaugurou-se em Junho e encerra a 20 de Agosto de 2018. No Youtube, há um vídeo desta exposição "pot-pourri"...
      Os exemplos, como aliás a MR refere, abundam. Qual deles o mais caricato...
      Os melindres, as teias de aranha, a susceptibilade doentia devem povoar estas mentes dos novos inquisidores puritanos e palermas, que pouco devem à inteligência e parecem ser os saudosistas duma purificadora religião ideal, que não há. Muitos deles são, no entanto, perfeitos "Tartufos", nas suas práticas escondidas.
      Retribuo os votos, cordialmente.

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