terça-feira, 13 de setembro de 2016

Irrealidades


O velho almirante já um pouco escalavrado, depois de pesquisar as edições da A. G. U.  na segunda estante, à direita de quem entra, foi sentar-se pesadamente no maple verde de napa, ao fundo da loja, muito próximo do maçon insular, de memória prodigiosa, que folheava um livro, na estante dos truncados.
O gordalhufo, que escreve no Público às terças e quintas-feiras, sopesava " A Educação Sentimental", de Flaubert, mas já se tinha apossado de um folheto sobre as campanhas de África, quem sabe se no intuito de se documentar sobre os Comandos e vir a escrever uma crónica para denegrir um partido de esquerda.
O jovem historiador e ramalhudo universitário, que tentou branquear o salazarismo por palavras mansas e cristãs, arrebanhou um von Clausewitz, com gula, e perfilou-se a olhar, indeciso, para uns Ensaios, ainda literários, de Franco Nogueira. Creio que não os levou, que a literatura nunca foi o seu forte.
Eu trouxe umas recensões de V. S. Pritchett, que mais parecia um tijolo. Mas que falavam e tinham capítulos sobre Eça e Graham Greene, e isso me bastou para esportular alguns euros. Poucos. Com o livro, veio também um postal retro com uma aguarela de Alberto de Souza, que ainda há-de aparecer no Arpose.
No entretanto, chegou o meu Amigo.

para H. N., que sabe do que eu falo...

4 comentários:

  1. Cruzes! Que bela descrição da Lisboa intelectual, de hoje e de sempre, pelos vistos concentrada num espaço da moda. Mas cuidado! O que fazia o APS ali, afinal? O Pritchett e o Souza parecem-me fraca desculpa... Diz-me com quem andas...

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    1. Isto é como os hospitais e as igrejas, encontra-se lá de tudo - até ciganos...
      Neste caso, não foi um "check-up", nem sequer ofício divino, mas uma simples visita de rotina, para ver se havia novidades...

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  2. Possivelmente sem fazer muito sentido, mas sabendo-o
    frequentador de alguns alfarrabistas, lembrei-me, ao
    ler o texto do link que referencio dar a conhecer algo
    que decerto já é do seu conhecimento. Ainda há relativamente
    pouco tempo estive a ver a montra desta livraria,que me pareceu
    ser também, alfarrabista.

    http://caisdoolhar.blogspot.pt/

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    1. Pois por lá andei, que é zona de comuns interesses ("caisdoolhar") e gostos.
      Já fui muito mais frequentador de leilões e alfarrabistas: já não sobra espaço e há poucos interesses por cumprir. Embora, às vezes, ainda apareça alguma surpresa, que não perco.
      Obrigado.

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