sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Do cemitério ao museu


O primeiro clique deu-se-me há mais de 40 anos, no Museu Britânico (Londres). Dezenas de múmias egípcias perfilavam-se ao longo de um enorme corredor, ao alto em 4 filas, protegidas apenas pelo vidro, num exibicionismo feroz. Era evidente que ninguém processaria o estado inglês por este despudor e desrespeito, desconhecidos que seriam os descendentes destes falecidos norte-africanos de outras eras.
Do repouso eterno ou campo santo, quantos anos serão precisos para os mortos ocuparem lugar em museus ou exposições necrófilas?
Cerca de 3 séculos, em Portugal - poderia eu responder. Porque segundo o jornal Público, de 1/9/2016, as ossadas de várias clarissas do séc. XVII, exumadas em 1996/7, no Convento de Santa Clara-a-Velha, foram objecto de uma exposição, em Coimbra.
Que se estudem os despojos, acho bem. Algumas conclusões importantes se poderão retirar, que serão decerto úteis para a Ciência e para a História. Mas que se exibam em exposição os restos de seres humanos, neste despudor cru e desumano, parece-me revelar uma enorme falta de respeito por aqueles que já nada podem fazer para defender a sua privacidade. Tempos de exibicionismo e espectáculo, que não olham a meios...

4 comentários:

  1. Exposição onde não porei os pés.´É demais!
    Entrei uma vez na capela dos ossos de Faro porque alguém que ia comigo queria ir. Entrei e saí. Nunca fui à de Évora.
    Bom dia!

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    1. Não me admiraria que a "mostra" conimbricense tivesse muitos visitantes: o vulgo é estupidamente curioso por estas coisas, e mórbido.
      Bom dia!

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