sábado, 17 de setembro de 2016

2 poemas de Oscar Hahn (Chile, 1938), traduzidos


Sociedade de consumo


Caminhamos de mão dada pelo supermercado
por entre filas de cereais e detergentes

Avançamos de gôndola em gôndola
até chegar às latas de conserva

Examinamos os novos artigos
anunciados já na televisão

De súbito olhámo-nos nos olhos
e desaparecemos um no outro

e nos consumimos.

...
...
Televidente

Aqui estou, mais uma vez, de volta
ao meu quarto na cidade de Iowa

Pouco a pouco vou sorvendo a sopa
Campbell, frente ao televisor apagado

O ecrã reflecte-me a imagem
da colher a entrar-me na boca

E sou o reclamo comercial de mim
mesmo, que anuncia nada a ninguém.

6 comentários:

  1. Gostei dos dois poemas deste poeta desconhecido para mim. »Televidente« é bastante divertido.
    Bom dia!

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    1. É um tipo de poesia interventiva que, por cá, já mal se usa...
      Boa tarde!

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  2. Um retrato da sociedade actual.Poético?
    Na minha opinião não me parece poesia.
    É mais uma maneira diferente de dizer,
    neste caso, a banalidade dos tempos.
    Mas acho interessante.
    Lembrei-me de Mário Henrique Leiria e os
    seus Contos do Gin.

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    1. Poesia, sem dúvida, com algo de prosaico, que não prosa poética. Bandeira e Drummond têm coisas assim, que nos surpreendem por um certo ineditismo do olhar e do dizer - a América do Sul é outro continente..:-)
      Mas a aproximação, que faz, a MHL também me parece pertinente.

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