sábado, 31 de agosto de 2019

Divagações 152


O tema do renovo é recorrente, em poesia, desde a Antiguidade clássica, mas teve uma particular importância sobretudo no Renascimento (... e tudo o mais renova, isto é sem cura. Sá de Miranda). Hoje, o nosso tempo-consciência mantém algumas referências de luz e sombra, juventude e velhice que se pautam pelas estações, mas também por várias dicotomias, como por exemplo: férias e trabalho, prazer e obrigações.
Setembro marca, para muitos, o final do lazer (férias) e o recomeço da rotina laboral. E, se para mim,  em tempos de extrema juventude, era o mês do campo (Briteiros) que se seguia ao Agosto da praia ( Póvoa), a diminuição da luz, no dia, a transformação do verde no castanho ou dourado da natureza, anunciavam-me também o fim da aventura ou, pelo menos, a proximidade (Outubro = Outono) de um tempo de responsabilidade (Escola) inexorável.
Com os anos, porém, essas diocotomias simples foram adquirindo novos contornos e significado, talvez mais amplo:

Vai sendo tempo de largares o verão
soltá-lo no caminho mais estreito
à boca do outono ou numa praia
onde já não passe mais ninguém.

O real dos factos encarrega-se de fazer implodir a fantasia. A esperança tem de ir para outras coisas, como disse um poeta inglês, avisadamente. Mas é bom que vamos em boa companhia. Ao menos.



Para A. de A. M., amigo de muitos anos, e por variadíssimas razões, afectuosamente. 

4 comentários:

  1. Gostei imenso deste poste. Também eu tinha um ritual mais ou menos parecido. Agosto no Algarve, Setembro na Anadia e Outubro o regresso a Lisboa e à escola. O fim do Verão põe-me sempre um pouco melancólica e os dias a diminuir não ajudam.
    Consegui comentar entrando pelo Internet Explorer :-)
    Boa tarde!

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    1. Fiquei bem satisfeito, Margarida, por ter conseguido ultrapassar a barreira que a inibia de postar comentários. Grato pelas suas palavras.
      Bom fim-de-semana.

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  2. Tal como a Margarida também gostei muito deste poste.
    É um retrato do tempo, uma fotografia de um menino feliz rodeado
    de espuma por todos os lados, e acima de tudo a doce memória de
    uma amizade que perdura ao longo dos tempos.
    Um bom fim de semana.

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    1. Obrigado.
      Era um mês "marítimo" de alegria e liberdade, realmente. Com alguns rituais que eu apreciava muito, e que só aconteciam uma vez por ano.
      Retribuo, com estima.

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