Numa das últimas vezes que passei pela Praça da Alegria vi, com desconsolo, que o velho Fontória tinha cedido o lugar a um qualquer boteco, desses descaracterizados que pululam por Lisboa, a modernista metrópole que se foi vergando, com a ajuda do seu mayor-minor, às exigências do mercantil turismo low cost, de sandálias plásticas e de trotinetes abandonadas por aí.
É certo que já o tinha conhecido ( ao Fontória) bastante decadente, por dentro, com balzaquianas espanholas que, convidadas para as mesas, se encarregavam, ciclicamente fingindo descuido, de verter e deixar cair para o chão copos e garrafas de whisky, para um maior consumo... No início desses anos 70, a boate, conservava a pátina dos anos 40/50. E era castiça pela singularidade. Nova, relativamente, mas com refegos, era uma stripper de Oeiras, que lá fazia o seu trabalho dançante todas as noites, acompanhada por uma vetusta orquestra pródiga em paso-dobles sul-americanos. Revivia-se um passado, por lá, imaginando.
No lado esquerdo, (para quem descia), da Avenida da Liberdade, havia concorrência mais fina. A Cova da Onça e O Hipopótamo, no final da A. A. de Aguiar, ombreavam e pareciam ainda recentes, tinham mais raça e distinção. Não havia porém variedades, mas apenas música ambiente para dançar e umas vistosas vitrines iluminadas, com peluches e bijuteria barata para oferecer às meninas em transumância que por lá passavam. Como quase tudo, o interior humano era nómada e estacionava apenas um pouco nesses apeadeiros de diversão soft.
O último já fechou, há anos, mas a Cova da Onça creio que continua a funcionar na Avenida da Liberdade, apropriadamente...
Ainda me lembro de O Caco, já desaparecido também, creio que na Barata Salgueiro, mais pequeno, modesto, cosy, onde o whisky era mais barato e serviam graciosamente, aos clientes fidelizados e com garrafa assinalada, uns salgados miniatura, ainda mornos e bons, pouco depois da meia-noite. Recinto em que a Cubana, de formas opulentas, reinava e fazia jus em mostrar aos incréus o seu passaporte de nacionalidade revolucionária.
Depois, havia ainda o Nina, ao Chiado, que era mais fino e só lá entrei uma vez. Hoje, é restaurante...
Outros tempos.
Depois, havia ainda o Nina, ao Chiado, que era mais fino e só lá entrei uma vez. Hoje, é restaurante...
Outros tempos.
Eu tenho de palmilhar a avenida da liberdade abaixo e acima para achar a cova da onça. Com nome no passeio, não há que enganar. Só entrei em lugares desses usando TV e filmes. Não pode. Tenho que lá ir por meu pé enquanto dura (ela e eu) que qualquer dia só os media e para recordar.
ResponderEliminarTalvez não se perca assim tanto. Ou perderá.
Se me permite, umas informaçõesitas adicionais ...
ResponderEliminarQuanto ao "Fontória", foi inaugurado em 15 de Janeiro de 1953.
O "Nina", inaugurado em 4 de Março de 1941.
A "Cova da Onça" já não existe, nem o prédio onde estava instalada, pois foi substituído por outro ...
Faltou referir a "Meca" da night lisboeta o "Elefante Branco" (encerrada no ano passado) na Luciano Cordeiro, inaugurado em 1965 e reinaugurado em 1986 pelo Manecas e Carlos Chaves, vindos do "Cova da Onça".
Já agora outra mui "importante" casa, desde os anos 70, o "Night and Day", na Av. Duque de Loulé, do José Vilhena da "Gaiola Aberta". Esta casa lá vai resistindo ...
Os meus cumprimentos
José Leite
Muito grato pelas suas preciosas achegas, antes de mais.
EliminarDo fecho da "Cova da Onça" não sabia eu, nem do encerramento do "Elefante Branco" que também ainda conheci. Assim como o "Night and Day" que resiste, afortunadamente.
Aproveito esta oportunidade para registar e louvar, mais uma vez, a qualidade e labor do seu "Restos de Colecção", que visito assiduamente, e sempre com interesse e proveito pelas matérias abordadas.
Cordiais saudações,
Alberto Soares
Estive uma vez para ir ao Fontória com uns amigos, mas a maldita sinusite não mo permitiu. Parece que não perdi nada porque o ambiente era degradante. De resto fui umas vezes ao Ritz Clube que tinha um par de velhos a fazer strip que era de chorar. Tinha graça o ambiente, numa mistura de lupen e 'intelectuais'. E só podíamos beber bebidas engarrafadas porque as alcoólicos eram todas maradas.
ResponderEliminarFui uma vez ou duas a um bar do Cais do Sodré que tinha projeto e mobiliário de Cassiano Branco. Quando entrámos, um amigo meu disse-me: «Aqui tens de beber pela garrafa; nada de copos.» E lá veio um ginger ale. Esse mobiliário depois acabou num restaurante da Rua da Atalaia.
Bom dia!
Dependendo do ponto de vista, o ambiente das boates lisboetas oscilava entre o castiço e o decadente, muitas vezes, em finais do século passado. Mas o ambiente tinha regras próprias e muito aceitáveis.
EliminarHoje, serão outras, talvez...
Boa tarde.
Eu é que agradeço, e aproveito para retribuir a gentileza das suas palavras, para qualificar o trabalho que o Alberto Soares tem vindo a desenvolver neste espaço.
ResponderEliminarOs meus cumprimentos
José Leite
Bem haja, pelas suas amigas palavras.
EliminarAlberto Soares