quarta-feira, 25 de julho de 2018

Por arrasto


A nossa época tem uma certa avidez por heróis, talvez por que lhe faltem bons exemplos, no presente.
Surpreendeu-me a extrema celeridade (apenas um ano após a morte) com que Simone Veil (1927-2017) acedeu ao Panthéon, através dos bons ofícios do sr. Macron que, nessa impaciência institucional, me fez lembrar o sr. Sarkozy. E não deixei de achar curiosíssimo que Simone Veil fosse acompanhada, para essa academia de memória eterna, pelo seu marido Antoine Veil (1926-2013) que, entre outras coisas, foi um alto funcionário da indústria francesa de armamento. Numa república que se proclama laica, achei comovente esse toque de atenção e ternura familiares...
Por cá, movem-se os interesses no sentido de levar, para o Panteão Nacional, os restos mortais de Mário Soares (1924-2017). A concretizar-se o facto, será que vai ser acompanhado, seguindo o exemplo francês, por Maria Barroso (1925-2015)?
Em paralelo (invejoso?), algumas personalidades do PSD começaram a movimentar-se no sentido de homenagear, da mesma forma, Francisco Sá Carneiro (1934-1980). E estarão a pensar fazê-lo acompanhar da sra. Ebba Merete Seidenfaden (1940-1980), ou não?
É que, assim, o nosso Panteão Nacional, qualquer dia, não chega para albergar tantos ramos familiares. Será necessário ampliá-lo, por uma questão de delicadeza, respeito e ternura votiva. 

5 comentários:

  1. Completamente de acordo com todas as suas palavras.
    Haja quem seja capaz de ver as incoerências de determinadas
    atitudes. E achei graça à "ternura votiva".
    Boa tarde.

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    1. O país é pequeno, as famílias são poucas e, muitas vezes, convergentes; no fundo, somos quase todos primos, ainda que afastados...
      A distância, para todos os efeitos, ajuda sempre um pouco à lucidez da razão.
      Na tropa, tinham uma frase simples, crua, mas lapidar para situações deste tipo: "Serviço é serviço, conhaque é conhaque!"

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  2. O Panteão tem diversos andares, não é? Da única vez que lá estive (ainda na época da borla) lembro-me que era muito alto. Se eles vão, eu também quero ir :-)

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    1. Eu estou esperançada que a esta idade post-moderna, muito emotiva, venha a suceder um neo-iluminismo esclarecido, a tender para o racional... Por que se não, não há panteões que cheguem.

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