quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Há quase 50 anos...


Não imagino como o governo do sr. Macron tenciona comemorar, no próximo ano, o meio século das movimentações estudantis e operárias de Maio de 1968, em Paris. Mas há datas que são sempre difíceis de tentar contornar, rasurar ou não referir. Emmanuel Macron (1977) estará, com certeza, à vontade, porque, como ainda não era nascido não se deve lembrar dessas convulsões pelas ruas de Paris... 



Daniel Cohn-Bendit (1945), hoje, tranquilo reformado do Parlamento Europeu, que foi figura cimeira e carismática nessa época, fará certamente algumas declarações solenes e importantes sobre a efeméride. Talvez aproveite até a oportunidade (quem sabe?) para lançar algum livro de memórias. Quanto a Jean-Luc Mélenchon (1951), que, dada a tenra idade, teve um papel menor, não deve porém ficar calado...
Mas o que resta dessa época de som e fúria, nas páginas cépticas da História, são sobretudo alguns slogans pitorescos, como: "É proibido proibir", "A ortografia é um mandarinato", "A sociedade é uma flor carnívora"; ou esse saboroso diálogo, que reproduzo acima, entre Cohn-Bendit e o ministro francês da Juventude, na altura.
Tudo o resto acabou por se esfumar no tempo e nas viradeiras sucessivas da história contemporânea francesa.
Que De Gaulle repouse em paz!

9 comentários:

  1. Em 1968 a resposta do Ministro já devia ser um
    pouco avançada para a altura, ou então tinha sentido
    de humor. Um tempo já tão distante.

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    1. Os ânimos já estavam exaltados, mas este ministro de De Gaulle mantinha o bom humor...
      Distante, e ao mesmo tempo parece que foi ontem.

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  2. Na época tinha nove anos, mas ainda me recordo das imagens na tv e do que contavam uns familiares a viver em Paris, mas segundo li, muitos anos depois, tudo começou com uns protestos estudantis em Nanterre, por causa de um acesso a uma piscina, depois foi a bola de neve que cresceu e ao descer a montanha fez história. A imaginação ao poder, outro dos slogans da época, deve ser perfeitamente desconhecido do Rei Sol Macron, que já mandou dar aulas, de como se comportar no Parlamento, aos seus deputados, mas depois disso já aconteceu no exterior uma cena de pugilato.
    As comemorações, no próximo ano, irão ser certamente bastante agitadas.
    Bom feriado!

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    1. Também tive testemunhos directos de uma amiga que lá estava.
      Os conflitos começaram logo no mês de Janeiro e pela falta de condições da Universidade de Paris. Depois, a invasão da Sorbonne, a Polícia, as barricadas no Quartier Latin... E o PSFrancês e o PCF a perderem o pé...
      Vou esperar para ver, com muita curiosidade, como é que os franceses vão celebrar a efemeridade.
      Retribuo, cordialmente, os seus votos!

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    2. Errata:
      onde escrevi "Universidade de Paris", queria dizer: Universidade de Nanterrre.

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  3. Também tenho o livrinho da capa verde e um outro outro de citações, de capa preta. A ver se o encontro.
    Quando li o diálogo de Cohn-Bendit e de Missoffe lembrei-me dele. :-)
    Em tempos soube o que faziam Alain Geismar e Jacques Sauvageot. Alain Krivine saiu do PCF e criou um partido trotskista e foi (mais de uma vez) candidato a PR. Será divertido (ou deprimente) vê-los para o ano.
    Lembro-me de, na época, haver muita gente a pensar que iria ser o fim de De Gaulle e outros céticos porque sabiam como os franceses eram relutantes à mudança.
    Espero que estejamos todos aqui em maio próximo a falar. :)
    Bom dia!

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    1. Macron vai ter que descalçar a bota..:-)
      Do livrinho da D. Quixote, gostei sobretudo de reler a entrevista de Henri Lefebvre, talvez o texto que melhor resistiu aos 49 anos. Mesmo as palavras de Sartre se desactualizaram...
      Seis anos depois, cá estavam eles, por cá, a fazer o "remake" de 68, no 74 português. E a matar saudades, daquilo que são o fogacho breve e a curta, mas intensa, alegria das revoluções. Tragadas que são, sempre, pela reordenação do Poder, em pouco tempo.
      Mas, como diz o Povo: "Enquanto dura, vida doçura."
      Um bom feriado republicano!

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  4. Passaram 50 anos. Acho que as comemorações vão ser consensuais.
    Bom dia!

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