quinta-feira, 26 de outubro de 2017

A relação selvagem

Ouvido num check-in da TAP, no aeroporto Humberto Delgado, aqui há alguns dias atrás:

- Tenho a dar-lhe uma má notícia... Está em lista de espera e não sei se será possível embarcar neste voo...
- Não me diga que a TAP também faz overbooking!? Era o que me faltava!
- Acontece e lamento, mas eu sou apenas o mensageiro.
- Pois é, mas o mensageiro é que costuma levar, normalmente, nas trombas.
- Olhe que você está a ofender-me...

Viemos a saber, mais tarde, que, presentemente, quase todas as companhias aéreas estão a fazer overbooking com cerca de 10% dos passageiros inscritos, excepto no que diz respeito àqueles que pagaram pela classe executive.
Acabou-se o tempo em que as grandes instituições (bancos, multinacionais, companhias aéreas...) tinham, com os utentes, uma ligação de honesta seriedade, confiança e lisura. A desregulação selvagem, feita de um capitalismo sem regras, começou pela Banca e seus colapsos fraudulentos, para contagiar rapidamente as grandes empresas na sua relação com os clientes. Veja-se a Ryanair, a Air Berlin, por exemplo, no que ao transporte aéreo diz respeito. E os governos ou a UE nada fazem, a não ser declarações inócuas e patéticas de intenção.
Não posso deixar de referir que a organização de serviço no aeroporto de Heathrow (Londres) era absolutamente caótica. Se não tivemos a ameaça do overbooking, no entanto, fomos metidos, à última da hora, num voo anterior àquele em que tinhamos reserva, no regresso para Portugal. Com 2 horas de antecedência - ambos voos da TAP. As nossas correrias tiveram que ser mais que muitas, para além do stress decorrente...

16 comentários:

  1. Todas as companhias fazem e é permitido, o que para mim é incompreensível. Há muitos anos fiz uma viagem de Lisboa para Modena de comboio e foi a primeira e última. O regresso foi o fim. Um comboio apinhado de gente, com vários bilhetes vendidos para o mesmo lugar de comboio. Só me sentei em Carcassonne.
    Agora é nos aviões. Há poucos dias aconteceu a uma amiga minha que viajava na Swiss. Ficou em terra e foi noutro avião no mesmo dia. E conheço uma pessoa que viaja muito e já lhe aconteceu na TAP e na Lufthansa, em ambos os casos com o check in feito em casa.
    Às vezes matam o mensageiro. :)
    Bpm dia!, por aqui muito enevoado.

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    1. O alerta, para mim, foi o daquele passageiro vietnamita-americano retirado à força, já do avião nos EUA... Depois, fui ouvindo várias experiências semelhantes de conhecidos e amigos, para me conscencializar de que isto era uma prática corrente. Confirmada, há duas semanas, pessoalmente.
      E para ajudar, apercebi-me que as hospedeiras de bordo da TAP estão muito mais feias do que no passado, quando a companhia era séria...
      Também por cá o "smog" prevalece..:-)
      Mesmo assim: bom dia!

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  2. Eu não misturaria estas questões (verdadeiras) com a histórica falta de respeito da TAP com os passageiros. Já levo décadas a ser desconsiderado com "overbookings" e quejandos, ainda os selvagens não eram capitalistas e a TAP era uma conceituada e pública empresa de bandeira. Um orgulho.

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    1. Há 4/5 anos que não viajava de avião e, para Londres, há 32 anos, por isso sou um viajante aéreo muito sazonal. Nunca vi Heathrow como esta Babel a que assisti, espantado. Ate o aeroporto de Frankfurt, muito maior, funcionava bem, da última vez.
      O desnorte - e a escassez de pessoal em Heathrow era evidente - está a acentuar-se, perigosamente. A impunidade da globalização é regra. E a produtividade é sagrada...

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    2. Não há aeroporto que resista ao crescimento da procura, principalmente quando a operação de segurança é, nos nossos dias, muito mais complicada do que há duas décadas. Heathrow movimenta atualmente 76 milhões de passageiros/ano e é o maior da Europa,tendo crescido 15 milhões nos últimos 20 anos (Frankfurt: 60 milhões, atrás ainda de Paris e Amesterdão).
      A globalização está aí, para o bem e para o mal. Compete a cada um de nós recusá-la ou entrar no jogo. Na realidade, por muito que me digam que não, eu acho que as pessoas têm opções a fazer. Capitalismo, sim, mas de proximidade? É possível, mas fica mais caro - e esse é o critério número um do "cidadão médio". Os que vendem aproveitam-se disso.

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    3. Não sou masoquista, muito menos mártir, para me sacrificar cegamente (mesmo que por opção política) nas aras deste capitalismo selvagem, que não tem outro nome.
      Na minha perspectiva de esquerda - e nunca ganhei nada com isso -, claramente assumida, procura ver as coisas com equilíbrio isento, apesar da minha matriz política.
      Dito isto, o que vi, assisti e aquilo por que passei, é, no minímo (visto da esquerda ou da direita), racionalmente: aberrante.

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  3. O over-booking é hábito, hoje em dia. Infeliz hábito! Mais ainda quando deixam em terra passageiros e não são simpáticos com eles, já que um sorriso não custa mesmo nada. A nós aconteceu-nos alterarem um dia antes da viagem horário de bilhete pago com meses de antecedência. Viajámos dessa vez num avião dos intercontinentais, tal o número de pessoas para a mesma hora.
    E sim, elas estão mais feias!
    Bom dia!

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    1. Mais um testemunho, que lhe agradeço. Curiosamente, as pessoas raramente se queixam (HMJ fez várias reclamações por escrito. Só a TAP ainda não respondeu...), resignadas a um destino que podia ser outro. Entretanto estas novas gerações ocupam o seu tempo a por flores e velinhas nos altares de ocasião... Não lutam contra estes sistemas iníquos de exploração desenfreada.
      Alem de feias, são mais deselegantes e boçais..:-)
      Uma muito boa tarde!

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    2. Aqui para o trabalho, o ano passado, fiz uma reclamação na TAP, por causa de uma mudança de lugar (comprou-se executiva e mudaram para turistica, sem ai, nem ui, dos Açores para cá). Insisti, insisti, insisti... 8 meses depois tivémos resposta e um voucher! O que se gastou em telefone, num número de vaor acrescentado, não sei se terá compensado o voucher. Claro que os telefonemas entraram depois da falta de resposta às reclamações no portal, já em desespero!
      Boa tarde

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    3. Pois, pelos visto a irresponsabilidade campeia nessa companhia que já trabalhou exemplarmente, nos seus vários segmentos.
      Boa tarde!

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  4. Como a Paula refere já fomos vítimas do célebre "overbooking", mas mesmo mau é o balcão da TAP em Orly, no ano passado, perante as reclamações dos passageiros, os funcionários fecharam o balcão e desapareceram e quando regressaram ficaram os três a discutir para decidirem quem iria atender os passageiros que estavam desde as 7 horas da manhã à espera de voo, naquele momento eram 16 horas, nós conseguimos vir no nosso voo, mas com atraso e os passageiros das sete horas ficaram em terra. Já a simpatia e a beleza são ausência permanente.
    Muito boa tarde!

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    1. Uma forma cobarde e irresponsável de procedimento, que procede, certamente, de um profissionalismo sem princípios, nem ética.
      É evidente que, hoje em dia, o poder político, que devia compensar este desequilíbrio perdeu força ou prefere submeter-se, sossegadamente, ao poder financeiro das grandes empresas. Volto a referir a Banca, como claro exemplo das malfeitorias destas condutas.
      Como dizia Vinícius: "Que me perdoem as feias/ mas beleza, é fundamental..."-)
      Boa tarde, cordialmente!

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  5. É uma situação inacreditável, mas há 20 anos já fui beneficiada com isso. Nos idos de c. 1997, num voo interno nos Estados Unidos, devido ao Overbooking fui promovida para a 1.ª classe, sem pagar mais por isso - foi muito bom :-) Boa tarde!

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    1. Finalmente, uma história feliz..:-)
      Mas esses acasos da boa sorte, hoje, devem ser raríssimos.
      Um bom final de tarde!

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