sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Deambulações simplórias sobre o Figurativo e o Abstracto


Dizem que o olhar de um observador, perante uma página ou uma tela, desliza, natural e inconscientemente, para o lado direito do objecto em questão, em detrimento do lado esquerdo da folha ou do quadro.
Um mero amador de pintura, não muito habituado a frequentar museus ou exposições, creio eu que tenderá, em grande parte dos casos, a privilegiar obras figurativas, em prejuízo de pinturas abstractas. Talvez porque aquelas lhe dizem alguma coisa...
A pintura abstracta suscitará, porventura, interrogações a nível racional; a pintura figurativa actuará mais a nivel sensorial ou da emoção, sobretudo, nas grandes massas humanas, que a possam frequentar, ainda que episodicamente. As artes ao serviço dos regimes da U. R. S. S. ou da Revolução Chinesa tinham, na sua função figurativa, um propósito político objectivo. Como a censura nazi, sobre aquilo que denominaram arte degenerada, tinha um fim estratégico. A formatação das sociedades, que hoje tanto é desejada pelo Poder, e aplicada, faz-se, sobretudo, no sentido da criação de clones abúlicos e acríticos, para que deixem de pensar, e se transformem apenas em animais emocionais. O que vai de encontro àquela velha frase das criaturas sensíveis, tantas vezes ouvida: Nem quero pensar!...
Pelo meio destas divagações maniqueístas, há que afirmar que, mesmo nos pintores actuais e/ou mais recentes, a expressão artística nem sempre é totalmente definida. Muitas vezes, há uma hesitação profunda, quando não constante, entre o figurativo e o abstracto.


7 comentários:

  1. Eu sou muito mais pelo figurativo, mas de repente vejo um abstracto que me apaixona e lá se vão as minhas "teorias" por água abaixo!
    Bom fim de semana!

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    1. Nas artes em que não somos "vizinhos" há sempre uma maior dificuldade na abordagem, ou, simplesmente, no "gostar".
      Na música erudita, eu mal chego ao séc. XX. Mas um apoio teórico ajuda sempre, à "proximidade".

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    2. Em tempo:
      bom fim-de-semana, também!

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  2. Concordo consigo. No meu caso sou muito sensível às cores, e gosto tanto de arte abstracta como figurativa. Deste conjunto gostei sobretudo do tigre. Bom dia!

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    1. Pomar tem quase sempre a faculdade de nos surpreender, pela positiva.
      Enquanto Pedro Chorão, que neste quadro não os usa, tem nos azúis uma forma de nos transmitir uma grande tranquilidade estética - na minha opinião e recepção. Bacon, pelo contrário, inquieta-me...
      Bom Sábado!

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  3. Como se costuma dizer: um olhar treinado...
    Os miúdos normalmente gostam dos livros com ilustrações figurativas e com as figuras bem delineadas. Não gostam de caras sem olhos, etc. O gosto também se treina, independentemente de preferências futuras.
    A maioria dos artistas abstratos começa(va)m por ser figurativos e tendiam para o abstracionismo, para a simplicidades.
    Não sou esquisita: gosto de figurativos e de abstratos. Mas - não me matem! - no geral não sou grande fã de Bacon.
    Bom dia!

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    1. Uma tela abstracta talvez nos possa levar mais longe. Pela especulação a que nos obriga. Enquanto o figurativo me dá um real mais "fixo", menos especulativo, portanto.
      Curiosamente, Pedro Chorão começou pelo abstracto; enviezou, a meio, pelo quase-figurativo (este quadro da Mulher é dessa fase) e regressou ao abstracto, definitivamente(?).
      Bom fim-de-semana!

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