quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Esquecimentos e omissões


Das ex-colónias portuguesas, tirando, eventualmente, o dito Estado da Índia (Goa, Damão e Diu) - que, da Índia, têm vindo vários visitantes ao Arpose - só faltava que alguém de Timor viesse ao Blogue. Aconteceu hoje, às 5h34, e o visitante dirigiu-se a um poste antigo de 8/3/2012, intitulado Lembrar Ruy Cinatti (1915-1986), poeta esquecido que tanto amou Timor. Alguém, por lá, o terá recordado.
Similarmente, ontem (hoje), no blogue amigo Prosimetron, JAD evocou o historiador Oliveira Marques (1933-2007). Assim se vai tentando alimentar a memória dos vivos, com a lembrança dos mortos queridos. Mas, penso, que é uma tarefa inglória neste nosso tempo de glórias efémeras e memórias curtas. Em que incensámos ontem o que amanhã sepultamos, para eleger um novo ídolo.
No entretanto, as Academias vão lembrando, burocraticamente, os seus maiores, como lhes compete, mas estas evocações ficam restritas às suas instalações geográficas e não chegam ao povo, nem às gentes das ruas. Como nos cemitérios, as inscrições biográficas e afectuosamente saudosas vão sendo delidas, nas lápides votivas, pelo bater inclemente do Sol, diariamente. Até que já não podem ser decifradas, pelas omissões das letras.
Quantos poetas, quantos historiadores, quantos escritores, quantos nomes ilustres se foram apagando, no tempo!...
( Por isso, não foi sem algum cepticismo e alguma melancolia, que eu fui escrevendo estas palavras.)

6 comentários:

  1. A memória global é tão curta! Ficam-nos as nossas que vamos acarinhando e cultivando!
    Bom dia!

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  2. Houve um tempo em que eu 'descobria' uns escritores portugueses completamente esquecidos e que ia lendo com grande agrado. Agora, acontece-me mais com pintores e escultores, que encontro por blogues e me pergunto por que não os conhecia.
    Mas hoje está pior (parece-me) por porque ninguém lê, para só falar em contemporâneos, Aquilino, Miguéis, Sena...
    Quanto aos antigos, a Imprensa Nacional-Casa da Moeda podia ter um papel fundamental ao editar os clássicos em despretensiosas e baratas. Muitos nem se encontram disponíveis no mercado ou só em edições com grande aparato editorial que, para além do elevado custo, afugentam os leitores que não são estudiosos da matéria.
    Bom dia!

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    1. Quem teve (tem) família, tem mais "eternidade": Sophia versus Eugénio - que eu vou tentando recordar... Mas também os parentes se vão esquecendo, talvez num exorcismo pessoal em relação à morte. Não há muito a fazer, embora, haja, raramente, ressurgimentos inesperados, por obra de alguém: Vivaldi, Bach, S. Zweig...
      Concordo totalmente com o que devia ser a vocação obrigatória da IN-CM.
      Bom resto de semana!

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    2. Tinha dado a minha opinião e apagou-se tudo. Frustrante!.
      Menciono apenas os escritores esquecidos que me vieram à
      memória e ficam imensos por citar. Mário Dionísio, Gedeão,
      Sidónio Muralha, Irene Lisboa ...

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    3. Já se têm queixado do mesmo..:-(
      Li algum Dionísio, sobretudo prosa, de Gedeão devo ter lido quase toda a obra poética e tenho pena de nunca ter comprado a "História (?) do Colégio de Campolide" (publicado sob o próprio nome, de Rómulo de Carvalho). Li, com entusiasmo, na adolescência, os primeiros livros de Sidónio Muralha, com capas de Pomar (falei deles no Arpose). Irene Lisboa é uma grande prosadora, ainda hoje, pelo menos, na memória de alguns.

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