quinta-feira, 1 de junho de 2017

Desabafo (21)


De quando eu era pequenino, tenho na memória alguns episódios pitorescos e ingénuos, que me fazem considerar, agora, ter sido uma criança imbuída de princípios que se poderiam considerar típicos - quando hoje os penso - de um defensor estrénuo dos fracos e oprimidos. Com essa atitude épica, muito cristã, cheguei a correr alguns perigos físicos, menores. Mas quem sabe o que é a prudência e a complacência, burguesas, na infância?
É certo, e com atenuantes com que agora me defendo, que eu já tinha lido O Quixote, numa versão resumida, e me tinha emocionado com O Orlando, de Ariosto, lido em quadradinhos. Por outro lado, eram tempos de Guerra Fria e de coboiadas, em que o Bem havia sempre de triunfar do Mal, por invenção ou intervenção divinas, ou de algum realizador americano de cinema. E as almas núbeis ficavam, tranquilamente, na paz dos deuses, ainda existentes. Porque, depois, chegaram o Nietzsche e o Sade à minha vida. Para não falar do Tarantino ou do Buñuel.
Porque, hoje, tenho já muito pouca paciência para pactuar com a imprevidência estúpida, a carneirada mental e com a burrice arrogante. Até mesmo para com a beleza pura, sem miolos. De alguns adultos.
Hoje, que é o  Dia Mundial da Criança.

2 comentários:

  1. Todos os dias de todos os anos deviam ser
    de luta, para que crianças sejam protegidas
    e não maltratadas como diariamente acontece
    por esse mundo fora. A minha opinião refere-se
    apenas ao último parágrafo do seu texto.

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  2. É isso que eu lamento, marcar um dia para o afecto que deverá ser quotidiano. E discreto, mas atento.
    Claro que estas comemorações têm, na sua origem, objectivos comerciais. E as pessoas embarcam, ou têm mesmo que embarcar na corrente dominante e festiva.

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