terça-feira, 15 de novembro de 2016

Miscelânea bibliográfica e poético-canora


Quando, em Dezembro de 1963, a Portugália fez sair, na sua prestigiada colecção Poetas de Hoje, os Poemas de Edmundo de Bettencourt (1889-1973), o poeta madeirense não seria conhecido de muitos leitores portugueses. O seu nome, um pouco a exemplo recente de Bob Dylan, era mais reconhecido como cantor, nesse particular, de fados de Coimbra. As Saudades de Coimbra, de sua autoria, e Samaritana eram gravações de êxitos que lhe estavam associados.
Mas o elogioso prefácio (Relance sobre a poesia de Edmundo de Bettencourt), de Herberto Helder, com um apologético apoio e explicação dos singulares Poemas Surdos, contribuiram para que o livro fosse procurado e se esgotasse. A insularidade de ambos os poetas talvez explique esta aproximação, à partida, pouco provável.


Afora poesias avulsas, esparsas e intermédias publicadas em revistas, Edmundo de Bettencourt fora colaborador (e, depois dissidente, com Torga e Branquinho da Fonseca) da revista Presença e publicara apenas e sob a  chancela deste movimento, 33 anos antes, um único livro de poemas intitulado O Momento e a Legenda (1930). O meu exemplar, adquirido não há muito tempo num alfarrabista de Lisboa, fora dedicado a Mário Coutinho (1899?-1984) e incluia, solto, também um poema passado à máquina, assinado, que teria sido publicado na Revista de Portugal, segundo indicação manuscrita de Edmundo de Bettencourt.


Não ficaria de bem comigo se não juntasse, a este poste, uma das gravações, antigas, do poeta-cantor de Coimbra, pese embora a deficiente gravação do fado conimbricense que, para mim, é um dos mais bonitos que conheço. Talvez valha a pena informar que o fado "Samaritana", em causa, no período do Estado Novo, era proibido, pelo tema provavelmente beliscar a moral católica. Pude, no entanto, ouvi-lo, na República Baco, clandestinamente e entre amigos, no início dos anos 60, em Coimbra. E aqui fica ele, pela voz de Edmundo de Bettencourt. Que era também poeta. Como o Bob Dylan.



6 comentários:

  1. Gosto imenso de fado de Coimbra. Tenho uma colecção de CD de fado, com algumas canções na voz de Edmundo de Bettencourt.
    Adoro!

    Boa noite:)

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    1. Vou mais pelos cantores: Luis Gois, Machado Soares...
      Bons Sonhos!

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  2. Gosto imenso de Edmundo Bettencourt. Tenho um LP dele, com uma gravação um bocado roufenha.
    Ele era também um bom guitarrista.
    Bom dia!

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    1. Daí eu ter falado no poste, por associação, no Bob Dylan..:-)
      Bom dia!

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  3. Samaritana é para mim um dos mais bonitos fados
    de Coimbra. E mesmo com um som tão mau, já aqui
    vim mais do que uma vez ouvi-lo. Que pena não
    ser restaurado.

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    1. Estamos em total sintonia.
      Há uma versão muito razoável por Luis Marinho (?).
      Uma boa noite.

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