segunda-feira, 25 de setembro de 2023

Um poema vertido do galego, de Celso Emilio Ferreiro (1914-1979)

 


Os Ratos


Um rato é uma coisa que se move,
uma coisa que vive pelos sótãos
e tem um coração pequerrichinho
e dois olhos de vidro sempre acesos.

Uma coisa que vai furando as trevas,
surge correndo, passa, foge e vai.
Um rato é uma coisa que está viva,
um entre só, depois já não é nada,
sombra nas sombras tristes dos buracos.

E a noite é um buraco sem orelhas
para os homens, tristes ratos sem refúgio.

Um homem é uma coisa que medita,
cismando sempre, sempre amargurado,
fugindo de outras coisas que se movem,
desarrumando papéis,
e remexendo, 
continuamente remexendo.
Sempre com pressa, atarefado sempre,
caminha, vai choutando entre os buracos,
nos sótãos do mundo,
nas estradas da vida,
nas pedras,
no vento,
nas ruas, 
nos seios das mulheres.

Um rato é uma coisa que se move.

Escuta-me Walt Disney, onde estavas?
que os meus sonhos de pombas não te viram?
Quando o meu coração era menino
e havia caravelas nos meus olhos?


(in Cartafol de Poesía, 1936) 

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