O romancista inglês L. P. Hartley (1895-1972) tem, para o seu conhecido romance The Go-Between (1953), um início soberbo: The past is a foreign country; they do things differently there. Ocorre-me uma variante banal, mas para mim verdadeira, que uso, com frequência, intimamente: o passado está quase sempre muito bem arrumado, o presente é que não. Se as gavetas de infância albergam muitas vezes uma parafernália insólita e já inútil, esse conjunto não deixa de fazer um sentido afectuoso, na memória intocada (?). E, se o presente, muitas vezes, precisa do futuro para se reorganizar, é do passado que vem uma paz resolvida e tranquila. Ruas e casas onde se instalaram os jogos felizes, os amigos fiéis, os livros inesquecíveis, os resumos fáceis e concordes, as palavras certas e amorosas de outrora. Que pareciam, agora à distância, estarem certas, harmoniosamente. Ainda que elas possam ser piedosas mentiras da memória já míope ou cansada, por lutas desgastantes e inúteis.
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Gostaria de ter uma relação tão agradável com o passado. Embora tenha tido momentos felizes e alguns que me deixaram saudades, quando o analiso tenho sempre a sensação de que, ainda, e apesar de tudo, o presente é melhor. E o futuro, embora incerto, está nas nossas mãos, dentro do possível, claro. Bom dia!
ResponderEliminarTenho uma relação quase neutra ou estática com o passado. Com coisas negativas ultrapassadas pelas positivas. Creio que a perspectiva sobre o tempo e a vida passa também pela idade, pela leveza ou profundidade da reflexão e pensamento, pela maneira de ser.
EliminarBoa tarde.
«The past is a foreign country; they do things differently there» é uma grande frase que muitos historiadores deviam ter em conta quando analisam o passado. Embora o vejam com olhos de hoje.
ResponderEliminarBoa noite!
É verdade, a memória é curta e, muitas vezes, apenas lúdica...
EliminarRetribuo, cordialmente.