sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Mais um poema de Roberto Juarroz


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Pensar é uma incompreensível teimosia,
qualquer coisa como prolongar o perfume de uma rosa
ou perfurar com raios de luz
a espessura das trevas.

É também ultrapassar alguma coisa
através de uma insensata manobra
desde um barco acidentalmente submerso
até a uma navegação sem barcos.

Pensar é insistir
por uma solidão sem regresso.


Roberto Juarroz (1925-1995), in Poesia Vertical (1987).

4 comentários:

  1. Gostei deste poema de Juarroz. Já havia apreciado o outro que traduziu.
    Bom dia!

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    1. Pouco conhecido por cá (Portugal), não deixa de ser um dos grandes poetas da América Latina.
      Bom dia!

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  2. Exceptuando o primeiro conjunto de quatro versos, dir-se-ia que pensar é uma tarefa algo ingrata e temerária. Os poetas acamam em pétalas de rosa o que pensamos e o próprio pensamento. As palavras deles são bem inusitado a bafejar-nos as horas. E, contudo, tanto se pensa sem berço ou perfume.

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    1. Nos tempos que correm, pensar é um luxo. Que, em Portugal, sempre pouco se usou, sobretudo em poesia: Sá de Miranda, F. Manuel de Melo, Herculano (com algum favor...), Pessoa e Sena - acho que não esqueci ninguém.
      Quem se lembrar de Pascoaes, será por caridade patriótica.

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