domingo, 30 de julho de 2017

A avisada e prudente usura


Aguce-se o crítico bisturi pessoal para raspar as camadas de ferrugem que cobrem o essencial.
Não se vá atrás da emoção de uma capa bem esgalhada, das badanas encomiásticas ao autor, para deslumbrar o ingénuo e putativo leitor, esqueçam-se as estrelinhas dos jornais, gabando o livro, como best-seller da actualidade. Que, em menos de um ano, será vendido nas estações do Metropolitano a metade do preço ou, talvez, triturado nas guilhotinas impiedosas dessas editoras sem critério literário, mas com poderosas baterias de propaganda com meros objectivos comerciais. A que se juntam umas senhoras e uns raros senhoritos que abriram blogues chulos e mercenários, em parceria (disfarçada) com as ditas editoras, em que, para além de falarem de tachos e panelas, também escrevem sobre livros, de uma maneira infantil e paupérrima. Porque, quanto à chamada crítica literária, em revistas ou jornais portugueses, hoje em dia, estamos conversados.
A juventude pode dar-se ao luxo - como eu fiz, aliás - de gastar perdulariamente o seu tempo com autores menores e leituras inúteis. Mas pede-se à maturidade, e sobretudo à velhice, que seja mais prudente e use o seu tempo de forma mais útil e criteriosa. O tempo já vai medido, e não é muito...
Um bom amigo meu contou-me, há dias. Tinha à sua beira dois livros. Um do nacional hugo mãe (zinha), outro do norte-americano John Updike. Isentamente, abriu um após o outro, e leu as primeiras linhas de cada livro. Entre a prosa paroquial, pequenina, a pretender ter graça, e a prosa séria, universal de Updike, não teve dúvidas. Continuou a ler o romancista americano e abandonou o livro do escritor (?) português. Até porque nem sempre é verdadeiro o slogan: o que é nacional, é bom. Pode ser péssimo, mesmo que lido com piedosa e patriótica caridade...

11 comentários:

  1. Concordo inteiramente, mas tenho que acrescentar que acho graça a esse seu "ódiozinho de estimação" pelo Mãe(zinha)! Também não engraço com a pessoa e dele li apenas dois livros infantis de que gosto muito(mas ajudam as imagens belíssimas). Tenho aí mais qualquer coisa, que por falta de tempo e no fundo, de interesse, ainda não li.

    Mas a publicidade tem muito peso. Confesso que já comprei muitos livros influenciada por essa máquina poderosa. Alguns valeram a pena, outros não. Continuo ainda, por vezes, a deixar-me ir na conversa dos "best-sellers", chamemos-lhes assim.

    Desejo-lhe um bom domingo:)

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    1. Como bem diz o povo: "Ódio velho não cansa"..:-) Mas é sobretudo o oportunismo sonso da criatura que me perturba mais.
      Depois, todos compramos mal um livro ou outro, ninguém está livre de o fazer. No princípio dos anos 60 corri a comprar "Doutor Jivago", do prémio Nobel Boris Pasternak. E até não é por falta de qualidade: as poesias do anexo final foram traduzidas por David Mourão-Ferreira. A questão é que o tema não me interessou e nunca acabei de ler o livro. Provavelmente, o Nobel também lhe foi dado por razões políticas...
      Bom resto de Domingo, Isabel!

      Em tempo:
      na sua lista de Blogues a seguir, tem pelo menos 2 (ou 3) que são daqueles falsos blogues de senhoras pagas por editoras, e que se "vendem" para este sujo trabalho.
      E, para acabar como comecei, aqui vai mais um provérbio: "Quem me avisa, meu amigo é".

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  2. Ah!Ah!Ah! Obrigada pelo aviso! Eu reconheço-os (penso), mas quando acrescento algum blogue à lista, custa-me depois tirá-lo. Pruridos!

    Às vezes quando estou com algum tempo, ando pela net, à procura de algum blogue que me traga algo de novo e por vezes engraço com alguns, onde deixo um ou outro comentário e outros no entusiasmo do momento (já li aqui um post em que me deixei rir, porque tem a ver com o assunto) acrescento-os à lista de blogues, mas depressa se revelam mais do mesmo, como eu costumo dizer. A alguns volto de vez em quando, outros raramente. Alguns desses de que (julgo) fala, já constam da minha lista desde o início do blogue e como simpatizo com a(s) dona(s), apesar de não conhecer pessoalmente, não consigo retirá-los da lista. Vou deixando ficar. De longe em longe lá tiro um ou outro, mas custa-me...

    Mas ainda assim agradeço-lhe pelo aviso:)

    Continuação de bom domingo:)

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  3. Tenho o Dr. Jivago (Numa edição antiga, da Bertrand, e outra mais mais recente) mas nunca o li, porque vi o filme. Raramente leio um livro depois de ver o filme. Gostei do filme.

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    1. O filme de David Lean era bom, e inesquecível. A música de Maurice Jarre, uma maravilha.
      Também passeio pela net, algumas vezes, mas é sempre uma miséria decepcionante: há demasiados gatinhos, cãezinhos, hamsterzinhos...
      Para não falar dos "azúis cuecas" (creio que sabe do que estou a falar)...
      Também eu não renego blogues desactivados, que seguia. Só que sou muito restritivo, por feitio. E porque quero ser capaz de os acompanhar, diariamente - é como se fosse um compromisso.
      Boas férias (se já tiverem chegado)!

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  4. Ah!Ah!Ah! (outra vez)

    Bem... confesso que o "Azul cueca" vou sempre ler. Acho graça...

    Andei à procura do meu filme, mas não sei onde anda, para ver se era o mesmo de que fala, mas deve ser. É muito bonito.

    Oficialmente, começo amanhã as minhas férias, se bem que estes últimos dias já foram de pouquíssimo trabalho.

    Obrigada.

    Boa noite e uma boa semana:)

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  5. Continuo a reler os autores que descobri cedo e tenho tendência a andar sempre pelos mesmos. As capas e bandanas não me influenciam, mesmo. Os 50 trouxeram-me também falta de paciência para os rosas e azuis deste mundo.
    O Dr. Jivago deve ser dos poucos que por ter visto o filme, nunca li o livro (normalmente gosto de ler os livros que estão na base dos filmes daí ter descoberto um mimo chamado "O Fantasma e Mrs. Muir" perdido lá em casa, dos livros do meu pai!
    Bom dia!

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    1. Reler é, muitas vezes, ler melhor - pela experiência da idade. Embora haja o risco de uma decepção, que contrarie o entusiasmo juvenil da primeira leitura.
      Desejo-lhe, Paula, uma boa semana!

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  6. Só por razões de saúde internáutica, gostava de vir aqui discordar de quando em vez, mas é-me quase impossível, como se provou mais uma vez. Pecado contra(minha)natura: subscrevo-o, pois adorava ter escrito algo assim. Abraço

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    1. Grato lhe fico pelas suas palavras.
      Às vezes, a irritação (minha) é muita, por ver quanto se perde por estes enganadores barrancos de cegos...
      Boa férias, se as houver, que eu gostaria de imaginar vizinhas, no litoral a Norte, de uma Póvoa que foi.
      Muito cordialmente.

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