domingo, 14 de agosto de 2011

Os Dinossauros


Ao primeiro dia de neblina o Sander e a Mira ainda se entreteram, naturalmente, a chapinhar pela piscina da casa e o Avô ficou-se a dormitar, em frente, sentado na cadeira de lona. A noite é que foi difícil, talvez pela intensa humidade. Doíam-lhe as articulações todas, sobretudo na zona dos joelhos. Estranhou a cama e dormiu mal, o avô, acordou imensas vezes e, nos sonhos, as gaivotas que vira na véspera pairavam como papagaios de papel sobre o mar, por entre a neblina, num silêncio sem pios.
No segundo dia, foi uma orvalhada intensa que deixava os cabelos húmidos e não despegou toda a manhã: sol, nem vê-lo. A humidade entrava na carne e parecia chegar aos ossos. Nem praia, nem piscina. Foi entretendo os netos como pôde e até lhes fez bonecos de plasticina: um orangotango a pedido, um elefante azul de tromba empertigada e dois dinossauros de aspecto terrífico. O sono dessa noite ainda foi pior: além das dores nas articulações, teve caimbras horrorosas que o deixaram dorido para todo o dia.
O terceiro dia amanheceu morrinhento sobre o mar e em terra. Vinha um cheiro a madeira húmida do brasido do grelhador do jardim: a pinho e faia, talvez. De aves, apenas fantasmáticas gaivotas rompiam por entre as nuvens baixas. As crianças estavam inquietas e começaram a peguilhar uma com a outra. Às 9 horas, já a Mira chorava copiosamente. Como estavam perto e, embora ao Avô lhe custasse guiar, por causa das articulações, resolveu levar os netos a ver as pegadas de dinossauros nas falésias. Gostaram muito.
E, no regresso, o Sander perguntou: "- Ó Avô, de que morreram os dinossauros?"
O velho respondeu, de imediato e sem pensar: "- De artrite reumatóide!"

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