Em Berlim, assistiu-se, ontem à
noite, à despedida do Chanceler Olaf Scholz, com uma cerimónia militar, julgo
de regra, na passagem de testemunho para o próximo responsável pelo Governo da
Alemanha.
Da imagem da figura de Olaf
Scholz, a que o público teve a possibilidade de assistir, ouvindo o seu
discurso, não resta nenhuma dúvida a qualquer pessoa bem-intencionada,
esclarecida e conhecedora da língua e cultura alemãs, que se perdeu, sobretudo
por uma ignorância atrevida sobre as funções do Estado, um dos últimos
estadistas com que a República Federal Alemã, no contexto político alemão
actual, poderia contar.
Para quem tivesse dúvidas sobre a
estatura intelectual, cívica e cultural do chanceler, ignorando o seu ar e
empenho sério, consciencioso, realista e circunspecto, avesso, como bom
hanseático, a manifestações espúrias de emoções vagas e sem sentido, deveria
ler, se soubesse, os últimos dois discursos.
O discurso nos
80 anos do fim do Campo de Concentração de Neuengamme, Hamburgo, e da
intervenção de despedida de ontem à noite:
https://www.tagesschau.de/inland/innenpolitik/scholz-grosser-zapfenstreich-100.html
Fica um aviso à imprensa, até
àquela que, por cá, se considera profissional: a saber a RTP. Para entender o
mínimo do universo intelectual de Olaf Scholz é preciso saber Alemão e não
trocar “alhos com bugalhos”, o que a RTP fez hoje.
“Scholz despede-se da governação na Alemanha a pedir
"mão firme" ao sucessor”
Com efeito, “mão firme” não
corresponde – EM NADA – àquilo que o Chanceler Olaf Scholz desejou ao seu sucessor,
porque disse o seguinte:
[“Seinem designierten Nachfolger
Merz, (…) wünschte Scholz für alle
Aufgaben und Herausforderungen "viel Erfolg, (…) und eine glückliche
Hand".]”
Ou seja, as “mãos firmes” da RTP
não têm nada que ver com as “mãos afortunadas” que Olaf Scholz desejou, num
universo intelectual superior, ao seu sucessor na condução do próximo governo da
RFA.
Fica mais esta ignorância
atrevida, até de uma estação pública com responsabilidade, para se entender que,
tanto em Portugal como na Alemanha, a imprensa – da direita, do centro e atá da
esquerda – fez da sua própria ignorância uma campanha sem precedentes, contra
uma superior personalidade de um Chanceler, puxando o chinelo para a “vidinha”
quotidiana e incapaz de entender discursos nobres fora da “caixa”.
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