sexta-feira, 22 de março de 2024

Publicar, ou não

 

Será sempre uma questão interminável, essa que divide leitores e críticos conscientes: se se deve ou não publicar livros que um escritor deixou inacabados. Póstumos e não revistos pelo autor, a dúvida permanece, se se justifica ou não editá-los.
Eça, Sena estão aí para exercício e juízo de quem queira pronunciar-se.
O útimo caso foi a publicação recente de "Vêmo-nos em Agosto", romance póstumo e inacabado de Gabriel García Márquez (1927-2014) que os filhos do Nobel da Literatura de 1982 resolveram editar.
Descontando o habitual acriticismo mediático português, que sempre bate palmas a estas coisas, apoiado provavelmente pela editora lusa que publicou a obra, ao contrário o jornal alemão Die Zeit fez uma abordagem negativa do facto. Mas também Le Monde des Livres (15/3/2024) se pronuncia criticamente assim: "... le livre présente des défauts et incohérences, et la chute laisse le lecteur sur sa faim." Embora atenuando depois: "Mais l'extraordinaire puissance narrative est là, de même que la fulgurance de certaines images, drôles, piquants, ou l'art de mêler truculence et délicatesse."
Enfim, não há nada como ler esta obra de García Márquez, para se fazer um juízo pessoal ainda que subjectivo.

4 comentários:

  1. Hei de lê-la lá mais para a frente.
    Um dos casos mais famosos é o de Max Brod, amigo e testamenteiro de Kafka, que não destruiu a obra do amigo como este lhe tinha pedido.
    Quanto a Jorge de Sena, as Dedicácias nunca deviam ter saído da gaveta. Ainda por cima só foram publicadas algumas e foi um flop editorial ao contrário do que a viúva pensou. E o testamenteiro não foi ouvido. Jorge de Sena divertiu-se a escrevê-las mas não as queria publicar.
    Bom dia!

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    1. Dá muito bons exemplos num e noutro sentido, que acompanho inteiramente.
      Há que ver caso a caso, sem um sentido mercantilista que, quase sempre, preside a estas recuperações literárias. E, sobretudo, com isento ponto de vista crítico.
      Boa tarde.

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  2. Julgo que tem de ser visto caso a caso - em princípio respeitando a vontade do escritor. Mas a "Cidade e as Serras" continua a ser um dos meus livros preferidos. Bom dia!

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